Simón Bolívar, chefe das revoluções que libertaram a Venezuela, Colômbia, Equador, Panamá e Bolívia

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Simón Bolívar (1783-1830), político e militar venezuelano, chefe das revoluções que libertaram a Venezuela, Colômbia, Equador, Panamá, Peru e Bolívia.

Simón Bolívar e o juramento do Monte Sacro

No dia 15 de agosto de 1805, em pleno verão romano, três venezuelanos dirigindo-se para fora da Cidade Eterna subiram no Monte Sacro, a histórica colina subversiva de Roma. Entre eles estava o jovem Simón Bolívar, então com 22 anos, acompanhado pelo seu preceptor Simón Rodrigues, um filósofo itinerante, e seu amigo Francisco Rodrigues Del Toro. Emocionado pela evocação do local – o monte servira de abrigo nos tempos da Roma Antiga para um protesto dos plebeus contra os que os oprimiam – Simón Bolívar empenhou ali a sua palavra de vir libertar a América do domínio espanhol. Foi o juramento do Monte Sacro.

Um dândi atrás da revolução

​Nascido em 1783, filho de uma família de crioulos venezuelanos riquíssimos, dona de terras e de minas, o jovem Simón Bolívar foi enviado aos 16 anos de idade para a Europa para aprimorar sua instrução. Esteve na corte de Madri e depois se dirigiu para a Paris de Napoleão. Lá, em 1804, frequentou o salão de uma prima, Fanny Dervieu de Villars, descendente dos Arisguieta da aristocracia crioula da Venezuela, casada com um conde francês apaixonado por biologia.

Viúvo aos 19 anos, Bolívar fazia então o papel do fidalgo estouvado, herdeiro de um potentado latino-americano que gastava dinheiro a rodo pavoneando-se como um dândi (firmou moda com o “chapéu a Bolívar”, bem espetaculoso), dedicado a cortejar todas as beldades parisienses que encontrava pela frente.

Quem fazia notável sucesso social naquela ocasião era Alexandre von Humboldt, o barão prussiano que se consagrara como viajante e naturalista de renome. Ele recém desembarcara na França com seu companheiro André Bonplan, vindo de uma estadia de cinco anos pelo Novo Mundo (1799-1804), desbravando rios, entrando em florestas e escalando montanhas. Além disso, nominou ainda uns 400 vulcões e identificou nas costas peruanas uma corrente marítima que levou seu nome: a corrente de Humboldt.

Não havia salão de Paris que não quisesse ouvir as façanhas dos dois cientistas, promovidos a cavalheiros da natureza. Assim sendo, Humboldt – típico representante do nobre iluminista – terminou por encontrar Bolívar numa das tantas recepções oferecidas pela prima Fanny. Na ocasião, o venezuelano tinha 21 anos.

Humboldt e Bolívar

Entre eles, deu-se, por assim dizer, uma amizade à primeira vista. Mais tarde, Bolívar deixaria dito que, devido ao seu trabalho científico, o alemão “foi o verdadeiro descobridor da América”.

Num desses encontros, Humboldt comentou que percebeu, por todos os lados em que andara no Vice-Reino da Nova Granada (Venezuela, Colômbia e Equador) ou no Vice-Reino da Nova Espanha (o México e os países da América Central de hoje), um enorme e sincero anseio dos chefes crioulos e dos nativos em geral em se verem livres do domínio espanhol.

A questão da independência das colônias, assegurou Humboldt, era coisa para qualquer hora. Todavia, ressalvou o sábio alemão, a rebelião poderia demorar porque ele não vira por lá quem pudesse encabeçar o levante contra Madri.

Talvez tal observação casual de Humboldt tenha servido como um inesperado desafio ao jovem Bolívar que, até então, somente demonstrara ser dono de um temperamento exaltado, romântico e passional – uma energia em busca de uma causa.

É certo que o preceptor dele, o impagável filósofo Simón Rodrigues, um peregrino da liberdade seguidor de Rousseau, inculcara-lhe horror à tirania e amor desmedido pela independência. Por igual, as duas margens do Atlântico foram violentamente sacudidas pelo efeito da revolução norte-americana de 1776 e pela francesa de 1789, ambas influindo sobre aquele rapagão irrequieto. A isso, somaram-se as tantas leituras que Bolívar fizera, devorando além de Rousseau e Voltaire, as biografias de Plutarco sobre os grandes homens do passado greco-romano: Péricles, Alexandre, César, os Gracos, e tantos outros mais.

Por último, dominando inteiramente o cenário europeu, havia a magnifica personalidade de Napoleão, o homem que do nada construíra um império, sozinho, e que projetara sua imagem titânica sobre uma nova geração que surgia do rescaldo da revolução de 1789 com grande sede de aventuras.

Por todos os poros da Europa e do Novo Mundo brotavam rapazes que queriam “ser como Napoleão”.

O clima de tensão, as batalhas memoráveis da revolução, o domínio do inesperado, tudo isso serviu como entorno para que Bolívar, até então um jovem ricaço inconsequente, um pavão vaidoso e petulante, viesse a se transformar no Libertador.

O juramento de Roma

Com um empréstimo que a prima Fanny lhe alcançou, Bolívar, com seu preceptor Simón Rodrigues e o amigo Francisco Rodrigues del Toro, rumou de Paris para uma longa viagem em direção à Itália. Percorreram o caminho tanto de diligência como com boas caminhadas. O trio de amigos levou 11 dias para atravessar os Alpes até chegar a Milão. Lá foram testemunhas da coroação de Napoleão como rei da Itália, ocasião em que, numa cerimônia militar impressionante, o general tomou para si a coroa de ferro dos monarcas lombardos (a mesma que encimara a cabeça de Ataúlfo).

Quando, por fim, chegaram a Roma, hospedaram-se na Piazza di Spagna, bem perto da famosa escadaria. Alugando um coche, os três passaram a fazer um tour pela cidade até que, no dia 15 de agosto de 1805, passando pelos portões em direção à periferia, avistaram o Monte Sacro. De imediato, veio à memória de Simón Rodrigues o feito dos plebeus da cidade que, nos tempos da Roma Republicana, lá haviam acampado em sinal de protesto. No ano de 494 a.C., liderados por Sicino Belluto, o povo pobre da cidade de Roma manifestou sua desconformidade com as injurias que sofria por parte dos patrícios, arrancando deles com uma longa greve um conjunto de concessões. O Monte Sagrado onde Bolívar estava era, pois, um local subversivo por excelência.

Ao cair da tarde, tomado pela forte emoção que evocava o local histórico, ato de desafio aos poderosos feito em época tão remota, Bolívar, olhando fixo para Simón Rodrigues no momento em que o sol se punha, teria feito então o juramento que iria comprometê-lo para o resto da sua vida:

Em tradução livre: “Juro frente a ti: juro por Deus e meus pais, juro por eles, juro pela minha honra e juro pela minha pátria, que não darei descanso ao meu braço nem repouso a minha alma, até que tenha rompido as cadeias que nos oprimem por vontade do poder espanhol!”

Simón Bolívar, O Juramento do Monte Sacro, Roma, 15/08/1805

A partir de então, e pelos 20 anos seguintes, todas as energias dele voltaram-se para a nobre causa da libertação e independência do Novo Mundo.

(Fonte: http://noticias.terra.com.br/educacao/historia – NOTÍCIAS – EDUCAÇÃO – HISTÓRIA – Simón Bolívar e o juramento do Monte Sacro/ Por Voltaire Schilling – 12 de Março de 2013)

Voltaire Schilling recomenda: Castro, Moacir Werneck de – O Libertador: a vida de Simón Bolívar. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1988.

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