Theatro José de Alencar, em Fortaleza.
Na época da inauguração do Theatro José de Alencar, em Fortaleza, os sons de nobres éperas europeias ribombaram pelo palco e o então governador do Ceará, Antonio Pinto Nogueira Aciolly, usou de sua melhor retórica para decretar que ele representava “um símbolo da civilização e do progresso”.
O ano era 1910, e desde então o teatro, que passaria por três reformas completas – uma delas apenas oito anos depois, para trocar as tubulações de luz a gás por energia elétrica -, passou a ser um marco e um orgulho arquitetônico dos cearenses, com direito a tombamento pelo Patrimônio Histórico.
Como os teatros municipais do Rio de Janeiro e de São Paulo e o Amazonas, de Manaus, o José de Alencar é uma mistura de estilos e, também como eles, tem características que o tornam uma obra singular.
O conjunto é formado por dois blocos interligados por um jardim. No primeiro deles ficam a entrada principal e o foyer, em estilo neoclássico, com adornos rebuscados. O segundo, destinado ao palco e à plateia, é muito mais exuberante e de valor histórico infinitamente maior. Trata-se de um raro exemplar no país de arquitetura em ferro fundido aplicada a uma casa de espetáculos, e nela predominam as curvas caprichosas e elegantes do art nouveau francês.
A estrutura de ferro do José de Alencar foi toda fundida em Glasgow, na Escócia. No final do século 19 era comum encomendar peças pré-fabricadas em ferro, então a grande novidade da indústria europeia em matéria de arquitetura, e adaptá-las aos projetos de cada país.
Os escoceses utilizaram nove tipos diferentes de grades rebuscadas na montagem Segundo documentos da época, a empresa Walter MacFarlane, que fundiu as peças, pretendia montar com o José de Alencar um showroom de seus produtos no Brasil, visando o mercado da América do Sul.
Originalmente, o José de Alencar era um teatro aberto. Toda a área que circunda a plateia – praticamente todo o teatro, à execeção do palco – abria-se para o exterior, para aproveitar a ventilação ambiente.
(Fonte: Veja, 23 de janeiro de 1991 – ANO 24 – N° 4 – Edição 1166 – ARQUITETURA – Pág; 94/95)