Há 40 anos morria o filósofo alemão Theodor Adorno
Há exatos 40 anos, em 6 de agosto de 1969, morria o filósofo alemão Theodor Adorno, um dos maiores adeptos da Escola de Frankfurt e crítico da chamada “indústria cultural”.
Nascido em Frankfurt em 11 de setembro de 1903, Adorno se formou em filosofia, sociologia, psicologia e também estudou música.
Foi ao lado de Max Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse e Jürgen Habermas, entre outros, que fundou a Escola de Frankfurt, que contribuiu para o renascimento intelectual da Alemanha após a Segunda Guerra Mundial.
Durante sua juventude, Adorno trabalhou no Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt, então dirigido por Horkheimer, onde passou a elaborar a teoria de como o desenvolvimento estético influenciava na evolução histórica.
Em 1934, foi obrigado a se mudar para a Inglaterra para fugir da perseguição nazista aos judeus e, por três anos, deu aulas de filosofia na Universidade de Oxford.
Mudou-se para os Estados Unidos e, no país, trabalhou nas universidades de Princeton e Berkeley.
Os anos que passou nos Estados Unidos fizeram com que Adorno refletisse a respeito da massificação da cultura, regida pelos interesses, lucros e conveniências, e estudasse a mídia norte-americana e a forma com que ela influenciava o consumo e a submissão da população. Dessa forma, surgiram os pensamentos fundamentados na Escola de Frankfurt e os termos hoje conhecidos como “indústria cultural” e “cultura de massa”.
Theodor Adorno morreu aos 65 anos, em 6 de agosto de 1969, devido a complicações cardíacas após ter tentado escalar uma montanha na Suíça.
(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada-da Folha Online – Há 40 anos morria o filósofo alemão Theodor Adorno – 06 de agosto de 2009)
Conheça as ideias do filósofo alemão Adorno, crítico da indústria cultural
Influente filósofo do século 20, o alemão Theodor Adorno (1903-1969) lutava contra o que chamava de “indústria cultural”, termo tão usado atualmente.
Além da indústria cultural, o livro (cujo primeiro capítulo pode ser lido abaixo) de Márcio Seligmann-Silva discute o fracasso do pensamento filosófico e político europeu e o papel das obras de arte para o pensamento utópico atual. O volume contextualiza ainda a formação e produção crítica de Adorno, cronologia e bibliografia do filósofo e escrita sobre ele.
Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno, seguia certa tradição de pensamento alemã, que via na forma, na apresentação (Darstellung), um momento indissociável do trabalho do conceito e da reflexão.
Adorno também foi um dos mais vigorosos críticos daquilo que ele batizou de “indústria cultural”. Nesta (como ele e Max Horkheimer escreveram na Dialética do Esclarecimento, em meados dos anos 40), o saber é reduzido à mercadoria; o público, ao público-alvo consumidor; e a cultura se transforma em “pseudocultura”: verniz brilhante de algo oco.
A bem da verdade, as duas questões estão intimamente ligadas. Do ponto de vista do positivismo, ou seja, de uma concepção que acredita na possibilidade de dominar e representar o mundo por meio de métodos científicos, sem deixar “restos”, a apresentação é epifenomênica (desprezível) enquanto momento do processo de conhecimento. O positivismo toma a linguagem como meio neutro capaz de representar seu objeto de modo integral. Existe justamente uma cumplicidade entre essa concepção da linguagem e aquela que predomina na indústria cultural.
A crítica do positivismo revela esse modelo do saber científico como propaganda do status quo. Para Adorno, tal concepção de conhecimento (amplamente dominante no Ocidente) apenas na aparência se opõe ao que acontece no totalitarismo. Nos anos 60, ele formulou a questão com as seguintes palavras:
Se um dia o espírito for levado a passeio, como muitos certamente desejariam, se for adaptado ao gosto do freguês que domina o negócio, elegendo a inferioridade deste como pretexto para sua própria ideologia, então se terá acabado com o espírito tão radicalmente como sob o porrete fascista.
Assim como no universo totalitário e unidimensional do fascismo todos, tendencialmente, constituem o Estado-Leviatã, assim também não existe, para o positivismo, tensão entre o sujeito de conhecimento e o objeto estudado. Já para Adorno, ocorre o contrário. Contrariando o ideal positivista que prega aquela relação mecânica e abstrata entre sujeito e objeto, ele afirma que “nada pode ser extraído pela interpretação que, ao mesmo tempo, não seja também introduzido pela interpretação”.
O sujeito é parte integrante do processo de conhecimento –e este, por sua vez, não se reduz à simples análise e decomposição em partes do real, mas, antes, é encarado como interpretação.
Para Adorno, filosofia é acima de tudo “comentário e crítica”, como ele escreveu em 1950 sobre seu amigo (e, de certo modo, mentor intelectual) Walter Benjamin.
Ela só pode existir no espaço da tradição e de sua crítica calcada politicamente no presente. Nas obras de arte –musicais, literárias e plásticas -, Adorno aplicaria do modo mais original essas premissas. Para ele, a cultura não podia ser pensada separadamente da crítica; a esta cabe o papel de revelar a não-verdade da primeira.
Assim, na Teoria Estética (sua última obra), Adorno apresentaria a estética como “a filosofia em si”, e não como um campo dela, ou como a aplicação de teoremas ao universo artístico-cultural.
Numa de suas formulações lapidares, no mesmo ensaio sobre Benjamin, ele afirmou também que “sua ensaística consiste na abordagem de textos profanos como se fossem sagrados” e definiu o método do amigo como “uma desmedida entrega ao objeto”: “o pensamento adere e se aferra na coisa, como se quisesse transformar-se num tatear, num cheirar, num saborear”.
O modo pelo qual surge a apresentação na obra de Benjamin também foi valorizado por Adorno, que elogiou seu princípio imagético: Benjamin construía imagens para captar, reter e criticar instantâneos da realidade, que ele surpreendia em momentos estratégicos.
Tanto a entrega ao objeto quanto esse procedimento imagético (o trabalho de construção do saber por meio da elaboração de constelações e da exploração de campos de força) marcam também a obra adorniana. Para ele, interessava não dissolver as tensões existentes entre as diversas camadas de sentido da realidade, mas antes colocá-las em perspectiva, para explicitar e explorar essas mesmas tensões. Afinal, como ele nota também com relação a Benjamin, a interpretação não pode visar a um fim pontual, pois, assim como para o Nietzsche tardio, “a verdade não é idêntica ao universal atemporal”, e “tão-somente o histórico ministra a configuração do absoluto”. A verdade tem um núcleo temporal.
O pensamento de Adorno faz contribuições enormes à filosofia, à sociologia, à crítica das artes, à psicologia, à educação e a todo o amplo espectro das ciências humanas. Sua obra é daquele tipo raro que, com o passar dos anos, torna-se cada vez mais atual.
(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/publifolha- da Folha Online – Márcio Seligmann-Silva – 20 de outubro de 2009)
(Fonte: http://www.caras.uol.com.br – 8 de outubro de 2009 – EDIÇÃO 831 – Citações)