Thomas Edward Lawrence, criou o personagem mais inacreditável da literatura do século XX, Lawrence da Arábia

0
Powered by Rock Convert

T. E. Lawrence: líder de uma guerra árabe

T.E. Lawrence; D.G. Hogarth; Lt. Col. Dawnay (Foto: homepage3.nifty.com/Divulgação)

T.E. Lawrence; D.G. Hogarth; Lt. Col. Dawnay (Foto: homepage3.nifty.com/Divulgação)

Thomas Edward Lawrence (Tremadog, Reino Unido, 16 de agosto de 1888 – Bovington Camp, Reino Unido, 19 de maio de 1935), coronel inglês que, criou o personagem mais inacreditável da literatura do século XX, ao mesmo tempo autor e personagem do livro, perpetrou, com Os Sete Pilares da Sabedoria, uma das obras mais impressionantes do século XX, e que, envolto em outras mil aventuras, entrava para a história com o nome de Lawrence da Arábia.

O herói de  Os Sete Pilares da Sabedoria é tão contraditório que parece ter sido criado por sete escritores, dispostos a compor em conjunto o personagem mais inacreditável. Trata-se de um inglês que, do alto de seu camelo, lidera a revolta árabe contra os turcos.

Um intelectual refinado que gosta de matar e ser maltratado. Um homem de escassa formação militar que se torna um estrategista brilhante. Um arqueólogo que se especializa em explodir trens. E, finalmente, um comandante que vai à luta para trair seus comandados. Esse guerreiro absurdo não é, porém, um personagem de ficção. Trata-se de T. E. Lawrence, líder de uma guerra árabe.

O propósito de  T. E. Lawrence foi descrever em seu livro a revolta árabe de 1917-1918 contra os turcos do Império Otomano. Era a época da I Guerra Mundial, na qual os turcos eram aliados da Alemanha. E coube a Lawrence, arrancado de suas atividades intelectuais para servir o Exército inglês, o papel de fomentar a guerra dos árabes pela sua independência frente ao Império Otomano, com o objetivo de beneficiar a Inglaterra.

Para convencer os líderes árabes, Lawrence é obrigado a mentir, prometendo que, depois de encerrados os combates, a Inglaterra garantiria a independência da Arábia. Essa independência, no entanto, foi efetivada somente muito mais tarde, e não na forma de uma grande nação árabe mas de países separados. Esse é o dilema de Lawrence: ele acredita na causa árabe, mas não consegue desvencilhar-se do passado britânico, e é atormentado por dúvidas.

Assim, seu livro é muito mais que uma crônica de guerra. Ele comporta uma reflexão filosófica sobre o papel do indivíduo na História, um debate sobre as diferenças entre os povos do Oriente e do Ocidente, e o retrato sem máscaras de um homem – o próprio Lawrence – em que a genialidade e a loucura se mesclam para formar uma figura fascinante, tanto por sua grandeza épica como pelos traços doentios que o fazem, por exemplo, extasiar-se com os momentos de sofrimento e dor física e deles tirar proveito.

 

Lawrence criou um estilo grandiloquente e repleto de adjetivos que se adapta com perfeição às situações que descreve. T. E. Lawrence morreu, em 1935, num prosaico acidente de motocicleta na Inglaterra. Sua lenda, no entanto, não morreu. Em 1978, por exemplo, ele voltou à cena, como personagem do romance 1985, do escritor inglês Anthony Burgess, autor de Laranja Mecânica. Lawrence permanece como um dos máximos heróis, ou anti-heróis, de nosso tempo, um homem solitário que arrisca sua vida defendendo uma bandeira que não é a sua. Num mundo de guerras, a guerra é o seu objetivo final.

 

No cinema, um Lawrence só aventureiro

 

Conhecido principalmente na Inglaterra e nos países árabes, T. E. Lawrence só veio a se tornar mundialmente famoso, em termos de grande público, em 1962, quando o filme Lawrence da Arábia, dirigido por David Lean e interpretado por Peter O’Toole, arrebatou sete prêmios Oscar. O filme, no entanto, apresenta um Lawrence romanceado, e dá ênfase apenas a seu lado aventureiro, evitando, pudicamente, alguns aspectos mais controvertidos de sua personalidade complexa. O filme passa ao largo, por exemplo, de seus elogios à dor física.

O episódio crucial da captura de Lawrence pelos turcos, na cidade de Deraa, quase não é mencionado no filme. Na verdade, Lawrence foi torturado e brutalizado pelos inimigos, que só não o mataram porque não o reconheceram. Em Os Sete Pilares, ele não esconde o seu trama. “Em Deraa, naquela noite, a cidadela da minha integridade fora irremediavelmente perdida”, confessa.

 

Nesse momento, Lawrence parece realizar, através da dor, uma das características que mais admira nos árabes: “Tornar a nudez da mente tão sensual quanto a nudez do corpo.”

(Fonte: Veja, 9 de maio de 1984 – Edição 818 – Livros/ Os Sete Pilares da Sabedoria, de T. E. Lawrence – Por Mário Sérgio Conti – Pág: 116)

Powered by Rock Convert
Share.