McVeigh é executado sem mostrar arrependimento
Timothy McVeigh (Lockport, Nova York, 23 de abril de 1968 – Terre Haute, Indiana, 11 de junho de 2001), ex-soldado, autor do atentado a um prédio federal na cidade de Oklahoma, nos Estados Unidos
Ex-sargento condecorado com medalha de bronze na Guerra do Golfo, terceiro filho de uma família de classe média, solteiro e sem muitos amigos, McVeigh vivia da venda de bolsas de campanha e outros apetrechos paramilitares em exposições de armas.
Responsável pela morte de 168 pessoas na explosão de um caminhão-bomba, entre elas 19 crianças, e deixou feridas outras 700 em Oklahoma, nos Estados Unidos, em 1995.
Ao contrário do que se esperava, o terrorista ficou mudo quando o diretor da Penitenciária Federal de Terre Haute, no Estado de Indiana, perguntou suas últimas palavras. Entregou um papel em que escreveu a mão o poema “Invictus”, de William Ernest Henley (1849-1903), que termina com: “Eu sou o dono de meu destino/Eu sou o capitão de minha alma”.
Em vez de falar, já amarrado na maca da câmara de execução, McVeigh optou por olhar testemunhas de sua morte, a primeira ordenada pelo governo federal norte-americano desde 1963.
Estavam lá 32 pessoas: dez parentes das vítimas, dez jornalistas, oito representantes do governo e quatro convidados seus, todos advogados. McVeigh chegou a chamar Gore Vidal, com quem se correspondeu na prisão e que definiu o terrorista como “alguém com senso de Justiça”, mas o escritor recusou.
Uma câmara de circuito interno de TV transmitia tudo para 232 parentes das vítimas, que se reuniram no aeroporto de Oklahoma, a 1.000 km dali. Foi para onde McVeigh passou a olhar fixamente até respirar pela última vez.
“As vítimas do atentado não tiveram vingança, mas justiça”, disse o presidente George W. Bush antes de viajar à Europa, onde enfrentará protestos contra a pena de morte. “Sob as leis de nosso país, o problema foi resolvido.”
“Acho que vi a face do mal hoje”, disse no aeroporto de Oklahoma Kathy Wilburn, cujos netos Chase Smith, 3, e Colton, 2, morreram no atentado. Para Larry Wilcher, cujo irmão desapareceu na explosão, “McVeigh tinha um olhar de desafio, como a dizer que faria tudo de novo, se tivesse chance”.
Timothy McVeigh foi condenado à morte no dia 13 de junho de 1997, por detonar o caminhão-bomba que destruiu o prédio federal de Oklahoma City em 19 abril de 1995, no Estado americano de mesmo nome.
Seu ato, afirmou depois, foi uma resposta ao desastrado ataque do FBI, a polícia federal americana, aos membros do Ramo Davidiano perto de Waco, no Texas, em 1993, que resultou em dezenas de mortos, e um protesto contra lei então recém-aprovada pelo Congresso que restringia a compra de algumas armas.
“Mestre do destino”
Nas duas últimas linhas do poema, lê-se: “Eu sou o mestre do meu destino e o capitão da minha alma”.
Lappin disse que McVeigh permaneceu calmo durante o processo da execução.
“Ele cooperou ao longo do processo, desde a hora em que foi retirado da cela até ser levado para a sala de execução”, disse Lappin.
“Ele entrou na sala, sentou na cadeira e se posicionou para que pudéssemos prender as correias”, completou.
Jornalistas que acompanharam a execução descreveram como McVeigh fez contato visual com todas as testemunhas, inclusive os parentes das vítimas, e morreu de olhos abertos.
“Ele se deitou lá muito quieto”, disse o jornalista Shepard Smith. “Ele não disse uma palavra”.
McVeigh foi preso à cadeira e recebeu injeções contendo três substâncias diferentes, que provocaram sua morte.
A primeira fez com que ele ficasse inconsciente, e as outras duas paralisaram seu pulmão e seu coração. Ele foi declarado morto minutos depois.
Além dos jornalistas e parentes das vítimas, escolhidos por sorteio, outras testemunhas, indicadas por McVeigh, acompanharam a execução.
Na última reunião com seus advogados, no domingo, McVeigh disse que sentia pelas mortes provocadas pela bomba, mas não se arrependia de ter explodido o prédio.
O atentado foi o pior da história americana.
Vigília
Freiras católicas organizaram uma cerimônia de 168 minutos de silêncio em homenagem às vítimas de Oklahoma, no domingo à noite. Elas também rezaram por McVeigh e por sua família.
Defensores da pena de morte se reuniram do lado de fora da prisão federal, segurando cartazes onde se lia: “Lembrem-se das vítimas” e “aqueles que matam não devem viver”. Num deles lia-se apenas “168”.
No outro lado da cerca, a 350 metros de distância, ativistas contra a pena de morte seguravam velas acesas. Um dos cartazes dizia: “Sinto muito Tim”.
“O que conseguimos executando McVeigh? Agora são 169 os mortos”, disse o assistente social Bert Fitzgerald.
Guardas da prisão uniformizados patrulharam o gramado que separava os dois grupos.
Calma
McVeigh passou suas últimas 24 horas de vida numa pequena cela da prisão de Terre Haute, “calmo e pronto para morrer”, segundo seus advogados.
O advogado Robert Nigh disse que o condenado estava tranquilo e não havia perdido o senso de humor.
Sua última refeição oficial foi um litro de sorvete de chocolate com menta.
Em suas cartas para os jornais locais, McVeigh disse que não temia a execução ou o que viria depois. Agnóstico, McVeigh disse que teria que “improvisar e se adaptar”, se houvesse vida depois da morte.
“Se estiver indo para o inferno, com certeza terei muita companhia”, disse McVeigh.
No domingo, a Suprema Corte suspendeu um requerimento para a filmagem da execução.
Timothy McVeigh foi executado por injeção letal na prisão de Terre Haute, em Indiana.
Às 8h, após ler a acusação (uso de arma de destruição em massa, conspiração, oito tipos de assassinato), o diretor do Presídio de Terre Haute mandou que o primeiro líquido fosse injetado.
McVeigh engoliu fundo. Seus olhos moveram-se lentamente de um lado para outro. Respirou profundamente e por duas vezes encheu as bochechas e expirou, tentando manter a consciência.
Às 8h10, seus olhos começaram a ficar mais translúcidos, a mexer lentamente. Sua pele ganhou um tom amarelado e seus lábios, uma tonalidade azul. Às 8h11, um dos executores disse que a segunda droga havia sido injetada. McVeigh permanecia imóvel, de olhos abertos, sem som.
Às 8h14, o eletrocardiógrafo mostrou que seu coração havia parado de bater. Susan Carlson, uma das jornalistas presentes, lembra que nada parecia mostrar que ele havia realmente morrido, a não ser na hora em que o diretor fez o anúncio oficial. “Foi tudo muito anti-séptico”, disse.
Timothy McVeigh teve como última refeição duas taças de sorvete de menta com pedaços de chocolate. Pediu para ser cremado sem autópsia, um direito que a lei lhe dá. Segundo um amigo, ele temia que pedaços de seu corpo fossem vendidos como troféu.
O local de depósito de suas cinzas permanece em segredo. “Nem eu sei onde serão espalhadas”, disse seu advogado, Christopher Tritico.
Timothy McVeigh morreu por injeção letal. Foi a primeira execução de um prisioneiro federal em 38 anos. O presidente americano George W. Bush disse que a justiça havia sido feita, e que agora os parentes das vítimas podem descansar.
Dez parentes das vítimas do atentado testemunharam a execução. Outros familiares acompanharam a morte de McVeigh de Oklahoma, por um circuito interno de TV. Ao todo, 168 pessoas morreram e centenas ficaram feridas quando McVeigh explodiu o prédio do governo federal, em 1995.
O funcionário da prisão Warden Harley Lappin disse que McVeigh foi declarado morto às 07h14 da manhã, 09h14 hora de Brasília. O condenado não fez nenhum pronunciamento final, mas deixou o poema Invictus, de William Ernest Henley.
(Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2001/010611 – NOTÍCIAS – 11 de junho, 2001)
(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1206200101 – FOLHA DE S.PAULO – MUNDO – EUA/ Por SÉRGIO DÁVILA DE NOVA YORK 12 de junho de 2001)