Tornou-se a primeira maestrina do Afeganistão
“Tudo o que eu quero é ser uma pianista e maestrina muito boa. Não só no Afeganistão, mas no mundo todo”.
“Mas você cresceu com a música?”, pergunto. “Não”, responde Negin, com um olhar assustado.
Negin veio de uma família pobre na província de Kunar, uma área bastante conservadora no nordeste do Afeganistão e dominada pelo Talebã.
“Meninas em Kunar não podem ir à escola e muitas delas não têm permissão das famílias para estudar música. Então precisei ir para Cabul para realizar meu sonho. Foi meu pai que me ajudou.”
Pressão familiar
O problema é comum, segundo o fundador e diretor do instituto, Ahmad Sarmast.
“Uma criança é matriculada com a total aceitação dos pais, mas aí um tio, tia ou avô começa a por pressão nos parentes para tirar a criança do programa de música ou até mesmo das aulas em geral”, afirma Ahmad.
E não é só contra a tradição e o conservadorismo que o instituto precisa lutar ? também há o problema da violência.
‘Pecado’
Muitos acreditam que a música é algo para pecadores. No ano passado, um dos concertos de estudantes organizados fora do campus foi alvo de homem-bomba ? uma pessoa que estava na plateia foi morta e Sarmast ficou com a audição prejudicada.
“Isso não te assusta, a possibilidade de terem novas bombas?”, pergunto a ele. “Não. Nós somos parte dessa luta. Estamos nos posicionando contra a violência e o terror com nossas artes e cultura, especialmente com a música. Essa é uma das formas que podemos educar nosso povo sobre a importância de viver em paz e harmonia, em vez de matarmos uns aos outros.”
Ele olha para Negin. “Parte da minha inspiração é ela ? e estudantes como ela, que continuam vindo aqui apesar das dificuldades.”
Em fevereiro de 2013, Negin foi escolhida para representar o instituto em uma viagem para os Estados Unidos. Lá, ela se apresentou no Carnegie Hall, em Nova York, e no Kennedy Center, em Washington, tocando sarod.
“Foi maravilhoso. Eu me senti muito bem, mas sempre quis ser uma pianista”, diz ela. Sendo assim, depois de voltar a Cabul, começou a aprender piano e também a conduzir como maestrina.
“Hoje foi minha primeira apresentação como maestrina. Eu fiquei muito feliz. Chorei quando subi ao palco e vi todas aquelas pessoas na plateia. Eu quero que o Afeganistão seja como outros países no mundo, onde mulheres podem ser pianistas e maestrinas.”
Com isso na cabeça, ela também começou a praticar e a conduzir meninos e meninas do instituto em uma orquestra mista.
“Quando você se tornar uma pianista famosa e tocar em vários lugares do mundo, posso te assistir de graça? Ou terei de pagar caro por um ingresso?”, pergunto. “Hmmm, não, me desculpe, mas você terá de pagar”, brinca.
Me despeço e prometo a ela que um dia iria voltar para ver seus concertos.
E conforme saíamos dali, volto a ouvir o barulho do trânsito de Cabul ? mas ainda consigo ouvir de longe a bela música que Negin está tocando.
Ela é um suspiro de esperança e resistência no Afeganistão.
(Fonte: http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/entretenimento/2015/11/21 – NOTÍCIAS – ENTRETENIMENTO/ Por Shaimaa Khalil – BBC News em Cabul (Afeganistão) – BBC BRASIL – 21/11/2015)
(Fonte: http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/11 – EDUCAÇÃO/ Por Shaimaa Khalil – BBC News em Cabul (Afeganistão) – BBC BRASIL – 21/11/2015)