Cofres supercheios
Um é criador de empresas em série e gosta de risco. O outro tem faro para negócios a ponto de ser considerado quase dono de um país. Ambos são da América Latina e bilionários. E, num ano de recuperação de crise internacional, o brasileiro Eike Batista e o mexicano Carlos Slim mostraram que ganhar dinheiro é com eles.
O Patinhas mexicano
De dono do México para dono do mundo. Ou pelo menos, no topo dele, do mundo dos bilionários, é claro. O mexicano de origem libanesa Carlos Slim tornou-se a primeira pessoa de um país em desenvolvimento a ser declarada a mais rica do mundo pela revista Forbes, com patrimônio estimado de US$ 53,5 bilhões no ano passado.
O filho de um comerciante imigrante convertido em magnata das telecomunicações deixou para trás os bilionários norte-americanos Bill Gates e Warren Buffet. Mas o feito não foi motivo de celebrações. Segundo Arturo Elias Ayub, genro de Slim, trata-se de número de uma revista que não causa comoção à família. Em encontro com jornalistas em 2007, o próprio Slim não deu importância a ser o número 1 dos bilionários, porque na disputa por mercado a história é outra.
Se sou o primeiro ou o vigésimo ou o 2 mil, não importa disse num dos raros comentários sobre sua fortuna e o lugar que ocuparia entre os mais ricos mundo.
Slim é dono da Telmex, a principal companhia de telefonia fixa no México, da maior operadora de celular no país e em boa parte da América Latina, a América Móvil, e de empresas de diversos setores de restaurantes a bancos, construção civil e metalurgia, todos integrados no Grupo Carso. No Brasil, está à frente da Claro e da Embratel.
É visto como uma pessoa com faro para bons negócios. Por exemplo, tornou-se acionista da Apple em 1997, antes de o lançamento do iMac catapultar o valor das ações da empresa. Mas costuma se ater a outra regra do comércio, a de comprar barato e vender com lucro.
O início da trajetória do dono do México que está agora no topo do mundo começou com um terreno que ganhou de seu pai como presente de casamento. Preferiu construir um prédio de 14 andares em vez de uma mansão para si. Reservou dois andares para a família. O restante vendeu ou alugou. E a partir desse dinheiro abriu uma construtora, que veio a ser sua primeira empresa.
Durante a crise da década de 1980, aproveitou para comprar empresas à beira da falência por valores irrisórios e se tornou dono da maior rede de lojas de conveniência e de departamentos no México. A Telmex foi adquirida em associação com empresas francesas e americanas, numa privatização em 1990.
Os negócios de Slim podem ser voltados para a alta tecnologia, mas o bilionário prefere o papel ao computador. Aos 70 anos, é conhecido por levar um estilo de vida austero para os padrões de sua fortuna. Não costuma vestir roupas caras, poucas vezes é visto nos melhores restaurantes e se nega a comprar mansões em outras cidades. E agora o Tio Patinhas mexicano está no topo do mundo dos bilionários.
O Midas Brasileiro
Ninguém conseguiu fazer crescer sua fortuna tanto quanto o empresário mineiro Eike Batista em 2009. A expansão foi tanta que se tornou o segundo homem mais rico da América Latina, atrás apenas de Carlos Slim, o mexicano desta página. Mais: é o primeiro brasileiro a figurar entre os 10 maiores bilionários do planeta. A revista Forbes o colocou em oitavo.
Eike é considerado um ousado empresário, amigo de celebridades e torcedor de esportes náuticos que parece transformar em ouro o que toca. Por sua habilidade para os negócios e os investimentos de risco, é uma espécie de Midas que conseguiu amealhar em poucos anos a fortuna de US$ 27 bilhões.
Em 2009, o acréscimo foi de impressionantes US$ 19,5 bilhões. A coordenadora de pesquisa da Forbes fora dos EUA, Luisa Kroll, defini-lo como o grande ganhador desta edição.
Somos movidos pelo desejo de empreender. Está em nosso DNA identificar oportunidades únicas de negócios e desenvolvê-las partindo do zero, diz Eike na mensagem de apresentação do Grupo EBX, holding de seu império.
Nascido em Governador Valadares (MG) em 1956, Eike estudou engenharia metalúrgica na Alemanha, país de origem de sua mãe. O contato do empresário com o setor de mineração aconteceu muito cedo. Seu pai, Eliezer Batista, foi ministro de Minas e Energia e presidiu a estatal Vale do Rio Doce privatizada em 1997 e uma das maiores do mundo no setor.
Eike foi casado com a modelo Luma de Oliveira, com quem teve dois filhos, Thor e Olin, hoje adolescentes. O casal se separou em 2004. O empresário é conhecido também por sua paixão por lanchas de alta velocidade, com as quais percorre o litoral sudeste e, apesar ser reservado sobre sua vida familiar, nos últimos anos figurou com frequência nas colunas sociais por sua amizade com a cantora Madonna e doações a algumas iniciativas ambientais.
O empresário tem negócios em mineração, petróleo, geração de energia e logística todas as empresas têm final X para incentivar a multiplicação. No caso, de sua fortuna. Eike se aproveitou da recuperação global no preço das commodities, da retomada da economia brasileira e da alta das ações das empresas do seu grupo. O avanço do real, que liderou a valorização ante o dólar entre as principais moedas do mundo, também contribuiu para encher seu cofre.
De acordo com a Forbes, dois terços da fortuna de Eike vêm da OGX (de exploração de gás e petróleo), cujas ações começaram a ser negociadas em bolsa de valores em 2008 e se valorizaram em 225% no ano passado. E o seu patrimônio deve avançar ainda mais, com a abertura de capital do estaleiro OSX, com a qual pode arrecadar US$ 5,6 bilhões.
(Fonte: Zero Hora Ano 46 Edição n° 16 274 Gente – EFE DINHEIRO – Cofres supercheios – 14/03/10 – Pág; 7)