Tvardovski, poeta e escritor, recebeu o prêmio do Estado junto com o compositor Khatchaturian.

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Tvardovski (21 de junho de 1910 – Moscou, 18 de dezembro 1971)

Aleksandr Trifonic Tvardovski ganhou três vezes o prêmio Lênin pelos seus relatos da frente de batalha contra a invasão nazista como correspondente de guerra. Em 1947 recebeu o prêmio Stálin pela sua obra poética, inspirada no classicismo de Pushkin e na maioria de seus poemas em versos alexandrinos. A 42 dias da sua morte – dia 18 de dezembro, aos 61 anos de idade – recebeu o prêmio do Estado junto com o compositor Khatchaturian (1903-1978). Apesar de todos esses prêmios, numa literatura que oficialmente só reconhece escritores bem comportados, Tvardóvski evoluiu do patriotismo de suas primeiras obras para uma pessimista visão crítica da União Soviética. E em 1969 chegou ao máximo da sua posição de rebeldia ao renunciar à direção da única revista liberal, antiestalinista, permitida da União Soviética, a combatida “Novy Mir” (Novo mundo).

Declarando-se “sem liberdade de agir como manda minha consciência”, Tvardóvski viu seus quatro colaboradores mais íntimos serem afastados “por atividades que afetam a segurança do Estado soviético”: a seleção de obras de crítica a aspectos da administração e da censura soviética para publicação em “Novy Mir”.

O “realismo” – Na URSS, seu nome é sinônimo do breve degelo cultural que permitiu a publicação da obra divisora de águas da literatura russa depois da Segunda Guerra Mundial: “Um Dia na Vida de Ivã Denisovich”, de Aleksandr Soljenítsin, editado por Tvardóvski. Foi a primeira brecha de uma verdadeira avalancha de denúncias, a partir de 1956, contra a era estalinista. Em “Novy Mir” surgiram os excertos da importante “Autobiografia Precoce” do famoso poeta Evgeny Evtuchenko, que indagava aos mais velhos como fora possível um “ditador tão sanguinário e feroz” permanecer com poder absoluto de vida e de morte num regime que propunha a abolição dos privilégios e das classes. Os poetas, indignados contra o “realismo socialista”, que exigia como temas poéticos a glorificação do operário, dos planos quinquenais e propunha versos glorificando as usinas hidrelétricas e “tendo os tratores como heróis” – conforme um editorial do “Pravda” de 1952 -, encontraram compreensão em Tvardóvski.

Afastado Kruschev em 1964, retomado o poder pelos conservadores, o degê-lo encerrou-se. Vários intelectuais foram perseguidos, principalmente Soljenítsin, colocado como réu em um julgamento simulado pelo conservador Sindicato dos Escritores. Seu defensor, contra as acusações de Konstantin Fedin, foi Tvardóvski, nessa época já doente, com um câncer no pulmão alastrando-se para o cérebro. À medida que reconhecia a irreversibilidade de sua moléstia e do ostracismo político em que se encontrava, Tvardóvski desafiava mais ainda a ala que preferia encobertar os crimes de Stálin e calar sobre as imperfeições do sistema soviético. Num de seus últimos artigos assinados em “Novy Mir”, ele referiu-se ao “baixíssimo nível do operariado soviético, que em vez de empunhar as ferramentas empunha um copo de vodca”.

O prêmio recebido pouco antes da sua morte não significou uma reabilitação de Tvardóvski. Em 1970, em edições clandestinas, ele próprio já havia definido sua escolha, ao escrever “Sobre as Cinzas de Stálin”. Nesse poema de mais de trezentos versos, Tvardóvski dá uma resposta tardia a Evtuchenko: “Mas agora nós sabemos: o que/ nos ensinou a calar tanto tempo/ foi o medo. Aprendemos a falar/ cada vez mais baixo, pois o Mal estava à espreita”. Completava, assim, os princípios já defendidos em uma carta a Fedin: “É o princípio da honorabilidade e da fidelidade aos fatos que distingue (o grande autor), que não teme as complexidades da vida, do autor que segue as modas do momento e empobrece sua descrição da realidade seguindo as últimas “instruções oficiais”: aí então é que ele (Soljenítsin) se coloca na bifurcação de duas tendências de nossa consciência social refletida em nossa literatura – entre a que tenta voltar ao passado e a que aceita o progresso como parte do irreversível processo histórico da humanidade”.
(Fonte: Veja, 29 de dezembro de 1971 – Edição n° 173 – LITERATURA – Pág; 68/69)

Novy Mir, revista literária de Moscou que constituiu a vanguarda liberal da literatura russa, da abertura liberal de 1956 até a intervenção do governo em 1970.

(Fonte: Veja, 14 de maio de 1975 – Edição n° 349 – LITERATURA/ Por Bruna Becherucci – Pág; 71)

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