Um pioneiro da vanguarda

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Um pioneiro da vanguarda

Os ninhos: um trabalho pioneiro em nível internacional

Hélio Oiticica (1937-1980), artista plástico, é uma figura de extrema importância no cenário cultural do Brasil e, principalmente, dentro do movimento Tropicalista. Um dos artistas plásticos mais esmiuçados da atualidade, Hélio Oiticica, nasceu a 26 de julho de 1937. Ele se considera um anarquista e gozador; em sua arte utilizou diversos tipos de materiais, como a madeira, a terra crua e o carvão, que veio a resultar no que ele denominou de “antiarte”. Em sua obra “Tropicália”, apresentada em abril de 67 no MAM, produziu uma síntese de várias tendências para uma cultura brasileira, onde esta devia voltar-se sobre si mesma e procurar seu sentido próprio.

Depois de participar do movimento neoconcreto, que ajudou a fundar, ele foi um pioneiro, no mundo, ao criar espaços onde o espectador deveria penetrar e sentir-se envolvido por esta nova dimensão. Oiticica ainda usou cores fortes em capas e mantos que as pessoas deveriam vestir para transformar-se em objetos insólitos – chamados de parangolés. Nos últimos tempos, ele retomara o estudo de suas maquetes de “penetráveis” e “ninhos” e deveria em maio participar de uma grande exposição organizada por Antônio Dias, programada para o Centro Internazionale di Brera, em Milão. Todo esse seu trabalho em conjunto com Ferreira Gullar, o “Poema Enterrado”, realizado nos fundos de casa (1960) no espaço onde seu pai queria construir uma caixa d’água.

ZONA NORTE-ZONA SUL – O Rio de Janeiro foi a cidade que certamente ele mais amou no mundo. Trabalhando sem parar, “produzindo com repressão ou sem repressão, herdeiro do anarquismo do avô, o professor de português Hélio Oiticica”, segundo Lígia, ele retomou, ao voltar de Nova York em 1979, o círculo de amizades que praticamente abrangia a cidade inteira, da praia de Ipanema à praça Tiradentes, do baixo Leblon à Mangueira, escola de samba na qual ele desfilava.

Adorava o calor e a praia, quanto mais cheia melhor. Estava ultimamente voltando às inúmeras maquetas de seus penetráveis e seus ninhos. Na pequena capela do Buraco Quente do morro da Mangueira. A escola de samba prestou uma homenagem a esse velho componente de vinte anos de Mangueira. Passita formado pelo tarimbado Miro, Oiticica teve, finalmente em 1980, a glória de sair ao lado de seu professor. Miro começou a dar aulas a Oiticica em 1967 em troca de aulas de inglês, Oiticica se transformou num incrível passista.

Preocupado com um amigo que tinha ido a Magé e não voltara na data prevista, Morais – era tudo o que se sabia sobre seu nome – costumava guardar carros na rua Ataulfo de Paiva, em frente ao prédio que Oiticica morava no Leblon. Passou a dormir na casa dele, estavam sempre juntos. “Hélio sentia como uma punhalada cada morte na baixada Fluminense. Chegou a imaginar que o Morais, andando lá pela zona perigosa de Magé, tinha sido assassinado pelo “Mão Branca”.

Ao ser encontrado, Hélio estava machucado (passara quatro dias tentando sair do lugar em que estava imprensado, agarrando-se ao pé de uma mesa e esfolando o corpo tentando se arrastar) e consciente. Oiticica morreu no dia 22 de março – ao longo dos anos, em diferentes fases, dos metaesquemas à tropicália, do neoconcretismo aos sete anos de trabalho em Nova York, aos 42 anos, na clínica São Vicente, de um derrame cerebral, no Rio de Janeiro. Fora encontrado pela artista Lígia Pape cinco dias antes, imprensado entre o tatame em que dormia e as inúmeras obras que conservava em seu quarto.

(Fonte: Veja, 2 de abril, 1980 – Edição n.° 604 – ARTE – Prova final – Pág; 49)

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