Ungaretti (1888-1970), um dos maiores poetas italianos do século XX, e foi professor da USP

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Ungaretti: a linguagem universal

Ungaretti (1888-1970), um dos maiores poetas italianos do século XX, e foi professor da Universidade de São Paulo, Giuseppe Ungaretti. Foi na realidade um homem de três origens e quatro pátrias. Nasceu em Alexandria, no Egito (8/2/1888), seus pais eram italianos, educou-se na França e considerava sua quarta pátria o Brasil, onde viveu alguns anos. Sua vida e seus versos ficaram marcados pelas imagens desses lugares e de suas muitas viagens, tornando-o um dos últimos poetas de seu tempo a falar a linguagem do mundo. No Brasil, aos 78 anos, viveu um caso de amor com uma brasileira de 25, e o transformou mais tarde no livro “Diálogos de Amor”. Do Egito ficaram-lhe as imagens do deserto, em sua poesia carregada de miragens. De seus pais italianos, principalmente de sua mãe, ele herdou uma personalidade inconfundível, misto de força e doçura. Da França, com Mallarmé e Rimbaud, aprendeu que a poesia “só é poesia quando traz em si um segredo” e algumas vezes vai além do mistério, representa “uma descida aos infernos”. Como Mallarmé e Rimbaud ele foi chamado de “hermético”, mas era apenas sintético e emotivo, capaz de em três palavras reunir e transmitir toda a sua emoção poética: “Mattina / M’illumino / d’immenso”. Viveu na Itália e os últimos anos da agitação do fascismo e do pós-guerra, mas sua poesia foi aceita por todos os homens. Sua obra (onze volumes, a maior parte de poesias, editadas sob o título geral “Vita d’un Uomo”) não contém uma mensagem ideológica, mas seduziu uns e outros pelo tom humanista e por uma visão dramática do homem. Sua técnica era a de um homem atual influenciado por essas relações e pela agitação do mundo moderno. Os poemas dos últimos anos de sua vida são estilhaços de poesia jogados no branco do papel, curtos poemas de meia dúzia de linhas, que ele explicava “como a resposta do poeta contemporâneo ao mundo da explosão nuclear e da implosão eletrônica”.

A quarta pátria – Para ele, o Brasil foi uma espécie de fuga a este mundo torturador, “onde a linguagem poética se torna cada vez mais difícil”. Veio assistir “ao opor-se da civilização à natureza e ao constante esforço de dominar a prepotência da natureza”. Aqui regeu a cátedra de Língua e Literatura Italiana na Universidade de São Paulo, de 1937 a 1942. Voltou em duas viagens sentimentais, em 1966 e 1967, quando recebeu o título de doutor honoris causa da USP. Nunca foi editado comercialmente no Brasil, mas lá fora, na Itália, divulgou a poesia brasileira e em 1946 publicou uma antologia de poetas brasileiros, de Anchieta a Vinicius de Moraes. Recentemente, lançou um disco de música, poesia e canções de Vinicius, onde ele próprio declama alguns poemas. Mas, apesar desse amor ao sol e ao verão tropical do Brasil, Ungaretti aproximou-se ainda mais de sua lembrança fiel, a tragédia da morte: em 1938, morreu em São Paulo seu único filho homem. Seu livro “Il Dolore” é principalmente o resultado desse sofrimento pessoal. Milhões de italianos o conheceram nos últimos anos por suas apresentações na televisão no seriado “Ulysses”, dirigido por Carlo Ponti. Vestido com um suéter, o poeta recitava a narrativa com seu rosto crispado pelas agonias da tragédia grega, que amava. Morreu no dia 2 de junho de 1970, em Milão, de uma complicação pulmonar. Já era o homem triste que antes escrevera: “É fatal que o tempo passe também para mim. Já passou quase todo, eu já estou no fundo coração do inverno”. Foi enterrado em Roma como um dos maiores poetas italianos do século XX.

(Fonte: Veja, 10 de junho, 1970 – Edição n.° 92 – DATAS – Pág; 96)

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