Vann Nath, pintor que imortalizou os “campos da morte” do Khmer Vermelho

0
Powered by Rock Convert

 

 

Imagem de 19 de julho de 2007 mostra Vann Nath no museu do genocídio em Phnom Penh

Imagem de 19 de julho de 2007 mostra Vann Nath no museu do genocídio em Phnom Penh

 

pintor que imortalizou os “campos da morte” do Khmer Vermelho

 

Vann Nath representou muitas vezes nos seus trabalhos as torturas sofridas na prisão (Foto: DR/VANN NATH)

Vann Nath representou muitas vezes nos seus trabalhos as torturas sofridas na prisão (Foto: DR/VANN NATH)

 

Foi um dos poucos sobreviventes dos “campos da morte” do Khmer Vermelho, no Camboja

Vann Nath (Battambang, Norte do Camboja, 7 de janeiro de 1946 – 5 de setembro de 2011), artista plástico cambojano, foi o homem que se salvou a pintar Pol Pot durante o tempo em que esteve preso em Tuol Sleng, o grande local de tortura do regime Khmer Vermelho na capital cambojana.

Exímio pintor, ele imortalizou por meio de seus quadros os horrores presenciados no período em que ficou na prisão S-21, uma das mais violentas do regime, que governou o país de 1975 a 1979.

Com cores frias e as figuras esqueléticas, Vann Nath conquistou reconhecimento internacional por representar com grande realismo as torturas e as duras condições de vida no Camboja sob poder do Khmer, quando mais de dois milhões de pessoas foram mortas.

Vann Nath nasceu em janeiro de 1946 em uma família pobre, na província de Battambang, Norte do Camboja, e desde jovem estudou pintura. Após a chegada do Khmer Vermelho, precisou abandonar as tintas, pois a atuação de artistas e intelectuais era proibida e foi trabalhar no campo.

Em 1978, a policía política o prendeu e Vann Nath foi enviado à prisão S-21. Lá, o diretor Kaing Guek Eav o Duch se interessou por suas habilidades artísticas e o encarregou de pintar um retrato de Pol Pot, líder do regime. Duch gostou do trabalho e fez uma anotação ao lado de seu nome: “conservar a vida do pintor”.

Vann Nath ficou famoso pelos seus quadros em que representava com grande realismo as torturas e as condições de vida durante os anos de 1975-1979 no Camboja. Escreveu também um livro de memórias do seu passado no centro de detenção S-21, “A Cambodian Prison Portrait: One Year in the Khmer Rouge’s S-21 Prison”. 

Em junho de 2009, Vann Nath – um dos sete sobreviventes do centro de detenções S-21 – foi o primeiro a testemunhar em tribunal contra o director do centro, Kaing Guek Eav, mais conhecido por Duch. Acusado de crimes de guerra e contra a humanidade, tortura e homicídio, Duch foi condenado em julho de 2010 a 35 anos de cadeia. 

Vann Nath já tinha formação artística quando foi obrigado a trabalhar numa quinta comunitária. Acusado de ser um inimigo do regime Khmer Vermelho foi encarcerado em Tuol Sleng em 1978 e só libertado em Janeiro de 1979 quando o regime Khmer Vermelho fugiu da invasão das tropas vietnamitas. 

O pintor perdeu dois filhos nos “campos da morte” dos khmer vermelhos, que entre 1975 e 1979 foram responsáveis pelo desaparecimento de 1,7 milhões de pessoas, o que representava um quinto da população (os que resistiram à fome, doenças ou exaustão foram simplesmente assassinados). 

Um dia, quando foi chamado na prisão, teve a certeza de que tinha chegado a sua hora. “Disse a mim próprio que isso não tinha importância, já que ia morrer de um dia para o outro, mais valia morrer logo do que viver naquelas condições.” Mas ao contrário do que aconteceu a muitos dos seus colegas de cela, pediram-lhe que pintasse um quadro de Pol Pot. “Sabia que se o pintasse mal, estaria a arriscar muito. Estava muito nervoso.” Era uma questão de vida ou de morte. Como correu bem, contou nessa audiência no tribunal, passou a pintar os quadros de propaganda do “irmão número um”. 

Na altura do julgamento, Vann Nath disse ao tribunal – criado pelo Camboja com colaboração da ONU -, que só sobreviveu na prisão onde morreram 14 mil pessoas, porque gostavam dos quadros que pintava do líder, Pol Pot. “Só sobrevivi porque o Duch se sentia bem quando passava pelo meu atelier. O meu sofrimento não pode ser apagado, as memórias continuam a perseguir-me”, afirmou. 

“A experiência de Vann Nath naquela prisão foi tão intensa que marcou toda sua obra posterior, inclusive aquelas que não estavam diretamente conectadas ao tema do Khmer Vermelho”, afirmou a artista Sopheap Pich, amiga de Vann Nath.

Vann Nath morreu em 5 de setembro de 2011, aos 66 anos, na clínica privada La Sante Hemodialysis em Phnom Penh. No dia 26 de agosto, depois de sofrer um ataque cardíaco, entrou em coma e não sobreviveu.

O porta-voz do tribunal, Lars Olsen, lamentou a morte do consagrado artista plástico, que “deu voz às vítimas”.

 

(Fonte: http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia -1510581 – CULTURA – NOTÍCIA / Por  – 05/09/2011)

(Fonte: http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif – Do Opera Mundi / BLOG DE LUISNASSIF – 05/09/2011)

 

 

 

 

 

Relembre os fatos que antecederam o genocídio no Camboja

Queda da monarquia

O movimento comunista no Camboja surgiu em meio à luta do país contra a colonização francesa nos anos 1940, influenciado pelos vietnamitas e impulsionado pela primeira Guerra da Indochina nos anos 1950. Em março de 1970, o marechal Lon Nol, um político cambojano que já tinha sido primeiro-ministro, conseguiu depor o príncipe Norodom Sihanouk através de um golpe de estado e derrubar a monarquia, com ajuda de seus parceiros pró-americanos. Paralelamente, o Khmer Vermelho – como era conhecido o Partido Comunista de Kampuchea – ganhou força e começou a crescer.

 

Ascensão do comunismo

Nos anos 1970, o Khmer Vermelho se posicionou como um dos principais atores militares do país, especialmente ao enfrentar as forças de Lon Nol em 1973 sob a liderança de Pol Pot, líder do partido. Nesse ano, o Exército do regime, com o apoio dos Estados Unidos, bombardeou o Camboja com 500.000 toneladas de bombas, que mataram cerca de 300.000 pessoas. Com isso, muitos dos familiares das vítimas se juntaram à revolução do Khmer Vermelho, até que o partido conquistou o apoio de aproximadamente 85% do território cambojano. Mesmo assim, as forças de Lon Nol ainda conseguiram lutar contra os comunistas por dois anos, graças à ajuda americana. Em 17 de abril de 1975, o Khmer Vermelho entrou finalmente na capital Phnom Penh e libertou o país das intervenções externas, dos bombardeios e da guerra civil.

 

Evacuação para os campos

Em 1976, foi estabelecido o Estado Democrático Kampuchea, governado pelo Khmer Vermelho até janeiro de 1979. Logo que tomaram o poder, seus dirigentes forçaram milhões de pessoas de Phnom Penh e outras cidades a irem trabalhar no campo – milhares morreram durante a evacuação. A desculpa que davam à população era a iminência de um longo bombardeio americano – o que não parecia um absurdo. De 1965 a 1973, mais bombas caíram no Camboja do que no Japão durante a II Guerra Mundial, incluindo as duas bombas nucleares de agosto de 1945. Na realidade, o objetivo era construir no Camboja uma utópica sociedade agrária, baseada nos ideais maoístas, sem diferenças de classes.

 

Exploração e massacre

Os líderes do Khmer Vermelho defendiam a eliminação dos intelectuais e a reeducação dos adultos por meio do trabalho manual. O dinheiro foi extinto, assim como a propriedade privada, as escolas, os centros religiosos, as lojas e os prédios administrativos. Os direitos humanos mais básicos foram desrespeitados. A população cambojana foi perseguida, privada de alimento e executada. O simples fato de alguém usar óculos poderia valer uma sentença de extermínio. Aos poucos, o Khmer Vermelho foi transformando o país em um grande centro de detenção, que depois se transformou em um verdadeiro cemitério. Como o Camboja fechou as portas para o resto do mundo, só mais tarde a verdade cruel veio à tona. Num país de somente 7 milhões de habitantes, cerca de 2 milhões foram assassinados por seus próprios líderes, e seus corpos, empilhados em covas coletivas dos campos de matança. Muitos dos soldados do regime eram crianças.

Justiça

O principal mentor de tamanha aberração ideológica e mortífera nunca chegou a enfrentar a história. Pol Pot morreu em 1998, quando se encontrava foragido no coração da selva cambojana. Somente em 2009 os horrores daquela época começaram a ser julgados. Em julho de 2010, um dos chefes torturadores do antigo regime foi condenado a 35 anos de prisão pelo tribunal internacional – depois sua pena foi reduzida para 19 anos. Kaing Guek Eav, mais conhecido como Duch, que dirigiu um grande centro de detenção e torturas, foi o primeiro entre cinco réus da corte – o único que admitiu culpa e pediu perdão pelas nas atrocidades cometidas durante o Khmer Vermelho. Recentemente, começaram a ser julgados Khieu Samphan, ex-presidente da República Democrática de Kampuchea; Nuon Chea, número dois e ideólogo do regime; e Ieng Sary, ex-ministro de Exteriores. Ieng Thirith, mulher deste último e antiga encarregada de Assuntos Sociais de Pol Pot, não foi julgada até agora por ser considerada demente.

(Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/internacional- MUNDO – Com agências France-Presse e EFE – Internacional – Ásia – 14/03/2013)

(Com agências France-Presse e EFE)

 

 

 

 

 

 

 

Powered by Rock Convert
Share.