Victor Berbara, diretor de teatro, conhecido como o “rei dos musicais”, pioneiro na produção de espetáculos da Broadway no Brasil

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Victor Berbara, pioneiro produtor de musicais brasileiros à moda da Broadway

 

Victor Berbara é o autor das versões brasileiras de temas dos musicais ‘Evita’ e ‘Minha querida lady’ — (Foto: Reprodução / Livro ‘Victor Berbara – O homem das mil faces’)

 

Também compositor, o artista multimídia deixa o nome na história do teatro

 

Rei dos musicais no Brasil

Diretor teatral foi pioneiro na produção brasileira de espetáculos da Broadway

Victor Costa Berbara (Rio de Janeiro, 18 de junho de 1928 – Rio de Janeiro, 7 de março de 2021), diretor de teatro, conhecido como o “rei dos musicais”, pioneiro na produção de espetáculos da Broadway no Brasil.

 

Homem de teatro, cinema e televisão, publicidade, rádio, psicologia e direito, o carioca produziu e dirigiu as versões em português da histórica montagem brasileira de “My fair lady”, em 1962.

 

Estrelado por Bibi Ferreira, Paulo Autran e Jayme Costa, “My fair lady”, ou “Minha bela dama”, como foi chamado na tradução de Henrique Pongetti, ficou três anos em cartaz e mostrou pela primeira vez, ao público brasileiro, como era um musical da Broadway.

 

Até então, a junção de música e dramaturgia no país só existia no teatro de revista que, naquela época, já estava em decadência. Houve ainda a efêmera experiência com  “Orfeu da Conceição”, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Porém,  a primazia de um musical para valer, com a música fazendo a ação ir adiante, orquestra no fosso do teatro, coro, dança e múltiplas trocas de cenário e figurino,  é de “My fair lady”.

“Não teria condições de chutar tudo para o alto para me dedicar somente ao teatro. Mas, com certeza, os momentos de maior alegria da minha vida me foram dados pelo teatro. E, embora não dirija mais no Brasil, continuo fazendo montagens na Argentina, no México, na Espanha, e só saio de um palco no dia em que morrer”, marcou posição Victor Berbara no capítulo dedicado ao teatro na biografia Victor Berbara – O homem das mil faces (2008), escrita por Tânia Carvalho, mas narrada na primeira pessoa por esse artista pioneiramente multimídia.

 

Embora tenha se formado em psicologia e completado a faculdade de advocacia em 1952, o carioca Victor Berbara deixa legado vasto no campo das artes. Foi compositor – parceiro de Haroldo Eiras (1919 – 1980) em músicas lançadas no apogeu da era do rádio, casos de Porque voltei (1951), Adeus, meu amor (1952), Noite após noite (1952), Ruínas (1953) e Dizem por aí (1954) – e atuou no mercado publicitário, em emissoras de rádio (foi um dos redatores de Um milhão de melodias, programa que aglutinava as estrelas da Rádio Nacional) e na TV.

 Contudo, foi no teatro, como pioneiro produtor e/ou diretor de musicais brasileiros encenados à moda da Broadway, que Berbara viveu as maiores alegrias enquanto também deu grandes alegrias ao espectador brasileiro.

“Minha vida se divide em antes e depois de My fair lady”, delimitou Berbara na narrativa autobiográfica. O produtor se referia à primeira montagem brasileira do musical norte-americano My fair lady (1956).

Em 1962, Berbara produziu a encenação de Minha querida lady em sociedade com três amigos, mas cuidou sozinho da parte artística, dirigindo o espetáculo estrelado por Bibi Ferreira (1922 – 2019) – atriz que o produtor de início achava inadequada para encarnar Eliza Doolittle até ser convencido do contrário pela mãe da artista – e assinando as versões em português de músicas como I could have danced all night (Frederick Loewe e Alan Jay Lerner, 1956), tornada Eu dançava assim no libreto brasileiro.

Minha querida lady ficou três anos em cartaz, entrou para a história do teatro e entronizou Victor Berbara como pioneiro rei dos musicais brasileiros à moda dos EUA.

Em 1965, Berbara trouxe Bibi de volta à cena em outro grande musical que seguia a receita norte-americana com produção dele, Alô, Dolly!, versão brasileira do então recente musical Hello, Dolly! (1964). A versão em português da música-título do espetáculo foi assinada por Berbara com o compositor Haroldo Barbosa (1915 – 1979).
Decorridos 18 anos, Berbara produziu um terceiro espetáculo que entraria para a história do teatro musical do Brasil, Evita (1983), protagonizado pela cantora Cláudia nos palcos nacionais cinco anos após a estreia, em 1978, do espetáculo original norte-americano.
Por triste coincidência, Claudia interpretou a música mais famosa da trilha sonora de Evita – Não chores por mim, Argentina, versão em português de Don’t cry for me, Argentina (Andrew Lloyd Webber e Tim Rice, 1978) – na edição do programa The Voice + que foi ar pela TV Globo neste domingo, 7 de março, dia da saída de cena de Victor Berbara, homem de mil faces que podem ser resumidas no amor pelo teatro, vivenciado com doses equilibradas de firmeza e paixão.

Em entrevista de 2012 ao colunista do GLOBO Artur Xexéo, Berbara lembrou do estalo inicial para trazer as produções americanas para o Brasil.

— Eu conhecia o Robert Lerner, irmão do Alan Jay Lerner, que é um dos autores de “My fair lady”. Fui assistir à montagem da peça que ele fez no México. Acompanhei toda a produção. Achei tudo complicadíssimo. Mas aprendi ali que um musical tem certas regras de produção: dois meses de preparo, seis semanas de ensaio e… opening night. Se não estrear, ninguém te chama mais para trabalhar. E é preciso ficar com o espetáculo em cartaz por pelo menos seis meses. Só assim pode dar algum lucro — contou Berbara.
E “My fair lady” foi só o primeiro. A partir dele, e entremeando com peças só de texto, como “Liberdade para as borboletas” e “O prisioneiro da Segunda Avenida”, o diretor montou “Blum”, um pouco conhecido musical argentino; “Promessas e promessas”, que lançou como atriz do gênero a cantora Rosemary; “Hello, Dolly”, com Bibi Ferreira e Paulo Fortes; e “Evita”, seu último espetáculo brasileiro, realizado em 1983, que tinha Mauro Mendonça, Carlos Augusto Strazzer e a cantora Claudia no elenco.

Polímata e ‘Renaissance man’

Mas não foi teatro sua primeira opção profissional. Para atender a um desejo da família e conquistar um “diploma de doutor”, ele estudou um ano de Medicina para, em seguida, trocar o curso pelo de Psicologia. Formado, cursou uma segunda faculdade, a de Direito. Chegou a trabalhar como advogado, mas teve sucesso mesmo quando tornou-se publicitário.

Berbara era do departamento de rádio de uma agência, o que o levou a fazer versões de sucessos americanos para o célebre “Um milhão de melodias”, da Rádio Nacional, e até a escrever novelas para a Rádio Globo. Daí para a televisão, foi um pulo.

— Antes da inauguração da primeira emissora de TV do Brasil, a TV Tupi de São Paulo, em setembro de 1950, houve uma transmissão especial aqui no Rio. Foi no dia 29 de julho de 1950, com a apresentação de José Mojica, um cantor mexicano de boleros (“Solamente una Vez”) que tinha virado padre. Quem dirigiu este primeiro “programa” da televisão carioca? Victor Berbara —  lembrou Xexéo, contando que chegou a conversar há pouco tempo com Berbara. —  Ele era um sujeito muito bacana. Tinha tomado a primeira dose da vacina contra a Covid, estava animado, até feliz no isolamento com a mulher.
Berbara criou o primeiro programa humorístico da TV carioca (“Aí vem dona Isaura”, na TV Rio, precursor das atuais sitcoms). E produziu teleteatros que ganhavam em audiência do festejado “Grande Teatro Tupi”. Acabou criando sua própria agência, a Century, e o VTI, um estúdio de dublagem.
A filha Maria Berbara afirmou que o pai estava “ótimo” nos últimos tempos, e que o falecimento foi “muito rápido” e sem sofrimento. Ela lembrou da inteligência “assombrosa” do diretor, que será tema do documentário “Victor Berbara multifacetado” produzido pela professora do Programa de Pós Graduação em Multimeios da Unicamp, Ana Carolina Maciel, e de como era “maravilhoso conversar com ele”.

— Foi um polímata, um “Renaissance man”. Tudo lhe interessava, por tudo tinha curiosidade. Amava, sobretudo, as artes cênicas; de fato, foi somente quando veio a pandemia que deixou de frequentar o cinema e o teatro — disse Maria, lembrando ainda o lado família do pai artista — Como pai e avô, foi absolutamente extraordinário: muito presente, muito amoroso, apoiava-nos em tudo. Foi muito amado por toda a família. Teve uma vida plena e uma morte serena.

 

Victor Berbara faleceu em 7 de março de 2021, aos 92 anos, vítima de infarto sofrido na casa em que morava na cidade natal em Santa Teresa, na Zona Sul do Rio de Janeiro (RJ).

(Fonte: https://oglobo.globo.com/cultura/teatro – CULTURA / TEATRO / Teatro e Dança / por O Globo – 07/03/2021)

(Fonte: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2021/03/07 – POP & ARTE / BLOG DO MAURO FERREIRA / Por Mauro Ferreira – 07/03/2021)

Jornalista carioca que escreve sobre música desde 1987, com passagens em ‘O Globo’ e ‘Bizz’. Faz um guia para todas as tribos

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