Virgulino Ferreira, cangaceiro conhecido como o herói popular Lampião

0
Powered by Rock Convert

 

 

 

 

 

Um dos principais líderes que incendiou o sertão entre o final do século XIX e 1940

Virgulino Ferreira da Silva (Serra Talhada, 4 de junho de 1898 – Poço Redondo, 28 de julho de 1938), cangaceiro que ficou conhecido como o herói popular Lampião, o “Rei do Cangaço”. Virgulino eternizou-se como mito da cultura popular nacional.

Virgulino Ferreira entrou para o cangaço, e virou chefe de bando no sertão que o criou, revoltou e lhe cortou a cabeça. Na sua trajetória e seu “banditismo honrado”, o que surge é o retrato seco de um universo arcaico e violento em luta contra um século vertiginoso. A realidade econômica e social que serviu de pano de fundo à saga do cangaço é o perfil da conhecida marginalização do sertanejo-vaqueiro que, diante da decadência da economia açucareira, adentra a caatinga atrás do boi – e o boi não exigia muita mão-de-obra. É o nordestino iludido pelo sonho fugaz da borracha amazônica e barrado do mercado de trabalho cafeeiro do sul pelo imigrante europeu.

 

São as secas, o desemprego, a política do “favor”, as injustas “parcerias”, as terras mal repartidas, a fome, a insolência do coronel, os espancamentos arbitrários. Espremido pelas brigas de família, o caboclo transforma sua roupa de couro em armadura. Duas opções eram então viáveis: entrar para o cangaço ou para a “volante”. Lampião foi um dos principais líderes de bando que incendiou o sertão entre o final do século XIX e 1940 – além de nomes como Cabeleira, Antônio Silvino (1875-1944), Sinhô Pereira e Corisco (1907-1940), era também conhecido como Diabo Louro.

 

O cangaço designou o fenômeno de bandos insubmissos que pegaram em armas para viver de assaltos, com a consciência de que o terreno para a irrupção da violência havia sido preparado pela deterioração da situação social do nordeste. O cangaço (a palavra vem de canga, devido à semelhança entre o jugo do gado e a panóplia militar dos guerrilheiros) aparece com frequência, em regiões que empregam pouca mão-de-obra, ou pobres demais para absorverem a força de trabalho disponível – como o nordeste brasileiro.

 

Sem idealização – Esse paralelismo introduz a discussão “simples bandido ou herói popular?” – A triunfal consagração póstuma de Virgulino e seu bando, em filme, verso e prosa, poderia deixar a ideia de que o cangaceiro foi na visão romântico-populista um líder político espontâneo. A idealização do banditismo nordestino, semelhante à que cercou o índio no início do século XX, apenas correspondeu às ânsias de transformação da sociedade, e encerrou uma crítica às relações econômicas vigentes.

 

O cangaceiro foi vencido, a razão estava numa sociedade mal feita, em que os maus poderosamente se organizavam. Mas o ideal por que lutou permanece vivo e um dia triunfará. Razão mais do que suficiente para que a História não reduza a uma “negatividade pura”. E que se decida a interpretar a palavra jugo também em seu sentido simbólico.

Lampião foi massacrado num riacho seco e perdido do Estado de Sergipe, no dia 28 de julho de 1938.

 

 

(Fonte: Veja, 19 de outubro de 1977 – Edição 476 – SO CANGACEIROS, de Maria Isaura Pereira de Queiroz – LITERATURA/ Por CLÁUDIO BOJUNGA – Pág: 148)

 

 

 

 

 

 

 

Powered by Rock Convert
Share.