Vito Acconci, pioneiro da performance e arquiteto visceral
O artista, atuante durante quatro décadas, começou com performances de rua no fim dos anos 1960
Vito Acconci, o homem que fez da masturbação arte
Vito Acconci foi um pioneiro da performance nos anos 60. Antes de se virar para a arquitetura, construiu uma obra radical à volta do seu corpo e do espaço.
Vito Hannibal Acconci (Bronx, Nova York, 24 de janeiro de 1940 – Manhattan, 28 de abril de 2017), foi um dos pioneiros da performance e da videoarte. Um dos maiores nomes da performance e da videoarte e autor de projetos arquitetônicos que desafiam a lógica e reenquadram o corpo no espaço.
Ele começou a fazer performance de rua no fim dos anos 1960, depois de tentar uma carreira como poeta. Algumas dessas apresentações o conduziram à prisão por importunar os cidadãos de Nova York (numa delas, ele escolhia uma pessoa ao acaso e a seguia pela cidade, tendo sua ação registrada por um amigo). Acconci se via como uma alma em busca de uma direção: “Essa era uma forma de me manter afastado da escrivaninha e me envolver com a cidade, conduzido por outra pessoa”.
Numa das performances mais insólitas de Acconci, ‘Seedbed’ (1972) ele construiu uma parede falsa na galeria Sonabend, do SoHo, em Nova York, e, escondido atrás dela, com um microfone, conversava com o público e se masturbava. Ele não concebia a arte separada do mundano, mas uma atividade inserida no cotidiano, cruzando o privado com o público e envolvendo, de fato, o espectador, como disse numa entrevista, em 2016, durante sua retrospectiva no Museu de Arte Moderna PS 1 do Queens.
Nos anos que se seguiram usou várias vezes o seu corpo, explorando as questões de gênero, a sexualidade, mas também o lugar do exibicionismo ou da pornografia. Numa das suas performances mais famosas, Seedbed (1972), masturbava-se, oculto debaixo de uma rampa, enquanto se dirigia ao visitante entre suspiros de êxtase e fantasias obscenas numa galeria vazia em que não havia nada para ver. Acconci, um provocador, dizia que a peça estabelecia uma verdadeira relação entre espectador e artista.
Um ano antes, com Conversion, o performer tentava transformar o seu corpo masculino num corpo feminino, escondendo o pênis entre as pernas. A obra antecipa as questões transgênero que se tornaram centrais nas últimas décadas.
Muitas destas acções, caídas no esquecimento, têm sido relembradas com o regresso do interesse pela performance, nomeadamente através de uma retrospectiva que o MoMA PS1 dedicou a Vito Acconci no ano passado. Nessa altura, o New York Times fez um perfil desta figura lendária da arte americana do pós-guerra, notando que já não era objecto de uma retrospectiva nos Estados Unidos há três décadas: “O impacto genético das suas performances, fotografias e trabalhos em vídeo de um período que dura apenas oito anos – 1968 a 1976 – é tão extenso que é difícil de traçar.”
É exatamente desse ano que marca o ocaso do seu trabalho mais seminal que data a instalação que deu o título à retrospectiva do PS1: Where We Are Now (Who Are We Anyway?) mostra uma mesa muito comprida rodeada de bancos que continua para lá do parapeito de uma janela, transformando-se numa prancha-trampolim.
No final dos anos 70, o artista abandona o espaço da galeria e a atividade de performer que explora os limites do espaço público e privado e passa a estar interessado em criar o próprio espaço. Acaba por abrir um atelier de arquitetura no final dos anos 80. Vito Acconci fez várias grandes instalações e parques públicos, explorando a fronteira entre escultura e arquitetura e fazendo intervenções na paisagem. Foi nesta fase, que teve menos sucesso no mundo da arte e causou algum embaraço entre os fãs do seu trabalho pioneiro, como diz o New York Times, que Vito Acconci desenhou espaços de espera em aeroportos ou uma ilha artificial na Áustria.
O artista Vito Acconci morreu em 27 de abril de 2017, em Manhattan, aos 77 anos.
(Fonte: http://cultura.estadao.com.br/noticias/artes – ARTES – CULTURA/ The New York Times, O Estado de S.Paulo – 29 Abril 2017)
(Fonte: https://www.publico.pt/2017/04/29/culturaipsilon/noticia – CULTURA ÍPSILON/ Por ISABEL SALEMA – 29 de Abril de 2017)