Vítor Lima Barreto (1906-1982), diretor, produtor, roteirista e diretor de fotografia.

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Vitor Lima Barreto (1906-1982), cineasta que dirigiu O Cangaceiro, em 1953, primeiro grande sucesso internacional brasileiro. Neste filme, Lima Barreto deu à figura do cangaceiro a dimensão de um herói semelhante aos cowboys do cinema americano. A obra abriu um ciclo de trinta filmes de cangaço, de diferentes diretores, e chegou a influenciar Glauber Rocha em Deus e o Diabo na Terra do Sol. No Festival de Cannes de 1954, O Cangaceiro lhe daria o prêmio de melhor filme de aventura. Nasceu em 23 de junho de 1906 na cidade de Casa Branca – São Paulo. Lima Barreto realizou só mais um longa-metragem, A Primeira Missa, em 1961. Lima Barreto morreu aos 77 anos, no dia 24 de novembro de 1982, de insuficiência cardíaca, em Campinas, São Paulo.
(Fonte: Veja, 1.° de dezembro, 1982 – Edição n.° 743 – Pág; 124)

Vitor Lima Barreto
Diretor, produtor, roteirista e diretor de fotografia.

Nasceu em 23 de junho de 1906 na cidade de Casa Branca – São Paulo. Faleceu em 24 de novembro de 1982 em Campinas.

“Comecei no cinema carregando tripé para o velho Del Picchia. Depois tomei emprestada uma câmera Kinamo, cavei 25 metros de negativo… e descobri meu mundo – sempre cheio de beleza”.

A primeira tentativa de filme sério de Victor Lima Barreto foi “Como Se Faz Um Jornal”, para O Estado de S. Paulo. Nos anos 40, fez fotografias de reportagem, foi redator da Rádio Tupi e trabalhou para o Deip (Departamento Estadual de Imprensa e Progaganda) de São Paulo, realizando cinejornais e documentários. É dessa época “Fazenda Velha” (1944). “Seu Bilhete, por Favor” e “A Carta de 46” – ambos de 1946 – passaram inteiramente despercebidos pela crítica; que no entanto ressalta, além de “Fazenda Velha”, as qualidades de “Caçador de Bromélias” (1946), feito para o Serviço Nacional da Malária.

Ingressa na Companhia Cinematográfica Vera Cruz em 1950, a convite de Alberto Cavalcanti. Seu primeiro filme para a produtora foi o documentário de curta-metragem “Painel” (1950), tendo como tema o painel sobre Tiradentes pintado por Cândido Portinari, lançado junto com o primeiro longa-metragem da Vera Cruz, “Caiçara”. No ano seguinte, dirigiu “Santuário” (1951), sobre os profetas do Aleijadinho em Congonhas do Campo. A premiação do filme no II Festival de Veneza de Filmes Científicos e Documentários, em agosto de 1951, abria-lhe a possibilidade de realização de um primeiro longa-metragem. A Vera Cruz, porém, relutava em aprovar o projeto de “O Canganceiro” (1953), no qual se empenhava o realizador desde a sua entrada na companhia.

Anunciada em setembro de 1951, a produção só se inicia no ano seguinte. Lima Barreto visita a Bahia, pesquisando o cangaço, mas as locações são realizadas em Vargem Grande do Sul, no interior de São Paulo. A filmagem, turbulenta e demorada, se arrasta por nove meses, e é de longe a mais cara que o cinema brasileiro conheceu até então. Finalmente concluído no final do ano, o filme é lançado em janeiro de 1953, encabeçando um circuito de 24 salas em São Paulo, e pouco mais tarde em circuito nacional. Em cartaz durante seis semanas consecutivas, em dezenas de cinemas com casas lotadas, “O Cangaceiro” alcança o maior número de espectadores que já tivera o cinema brasileiro em toda a sua história, e logo em seguida bate o recorde absoluto de rendimento de quaisquer filmes, nacionais ou estrangeiros, até então exibidos no mercado brasileiro. Apresentado em abril no Festival de Cannes, o filme chama a atenção da crítica internacional e conquista dois prêmios, melhor filme de aventura e menção especial para a música. Meses depois, será ainda o melhor filme do Festival de Edimburgo. Era a consagração – para Lima Barreto e para a Vera Cruz -, que, no entanto, chegava tarde para a produtora: afogada em dívidas, meses depois a Vera Cruz venderia os direitos do filme à Columbia Pictures, que o distribuiu durante anos por todo o mercado internacional, com enormes rendimentos. Com essa obra, surgiu um novo gênero cinematográfico muito utilizado depois, o “cangaço”.

Em setembro de 1953, viaja pelo Nordeste, da Bahia ao Ceará, em busca de locações para o seu novo projeto: “O Sertanejo”. Abordando temas ligados à figura de Antônio Conselheiro, ao contrário de “O Cangaceiro”, o filme desta vez seria rodado no interior baiano. Previstas para o final do ano, as filmagens vão sendo sucessivamente proteladas e sequer se iniciam: mais complexo, mais ambicioso e muito mais caro que o anterior, a Vera Cruz não tem condições de produzir o filme. Em guerra aberta contra o que considera um boicote da companhia, o diretor busca outros produtores, faz campanhas pelos jornais, anuncia novos projetos – mas não desiste de “O Sertanejo”. Uma leitura pública do roteiro, feita por ele próprio, causa enorme e duradoura impressão.

Em junho de 1954, já nos estertores, a Vera Cruz produz “São Paulo em Festa”, documentário de longa-metragem sobre os festejos do IV Centenário de São Paulo, dirigido por Lima Barreto. É o último filme da companhia – e será o único longa-metragem do diretor nos próximos seis anos.

Falida a Vera Cruz, Lima Barreto realiza três documentários: “Arte Cabocla” (1955), premiado com um Saci, “O Livro” (1957) e “O Café” (1959); o último – e eventuais outros que não deixaram rastros – são filmes institucionais de encomenda. Inicia uma coluna para o jornal O Dia. Escreve contos, novelas, argumentos e roteiros, ensaia uma história do cinema em São Paulo – e continua procurando produção para “O Sertanejo”.

Em dezembro 1957, anuncia a realização de “A Primeira Missa” – que se inicia em março de 1960. Fartamente divulgado pela imprensa, e ansiosamente aguardado, o novo filme de Lima Barreto decepciona. “A Primeira Missa”, baseado num conto de Nair Lacerda, “Nhá Colaquinha Cheia de Graça”, com locações em Jambeiro, no estado de São Paulo, é uma crônica interiorana, centrada na história de um menino que se torna padre. Apresentado no Festival de Cannes de 1961, o filme é praticamente ignorado – quando não tratado com frieza ou ironia. No Brasil, não faz boa carreira: exaltado pelas associações católica de cultura cinematográfica e recebido com simpatia por parte da crítica, ainda assim não era o que se esperava do “laureado diretor” de “O Cangaceiro”.

Nos anos 60, Lima Barreto filma um documentário de média-metragem, “Psicodiagnóstico Miocinético” (1962). Publica dois livros, “Lima Barreto Conta Histórias” (1961) e “Quelé do Pajeú” (1965). Continua a anunciar novos projetos – cada vez mais caros e mais ambiciosos – e periodicamente retoma os antigos, acalentados desde os tempos da Vera Cruz. São na maior parte adaptações de romances brasileiros famosos, ou grandes temas épicos ligados à história do Brasil: “A Retirada da Laguna”, “Plácido de Castro”, “O Alienista”, “Nos Idos de Sorocaba”, “Cântico da Terra”, “Pau Brasil” – entre muitos outros. Os preferidos – aos quais volta sempre – são “Quelé do Pajeú” e “O Sertanejo”, que deveriam compor, junto com “O Cangaceiro”, a sua “trilogia do Nordeste”.

No final dos anos 60, dois de seus roteiros – “Inocência” e “Um Certo Capitão Rodrigo” – recebem o prêmio do Instituto Nacional do Livro de melhor adaptação cimematográfica de obra literária, respectivamente em 1968 e 1969. Oito anos depois, pobre e doente, morando numa casa de cômodos semidestruída na Bela Vista, Lima Barreto ainda tinha forças para mais uma vez anunciar a filmagem de “Inocência”. Embora não por ele, “Quelé do Pajeú” e “Inocência” foram afinal filmados, o primeiro por Anselmo Duarte e o segundo por Walter Lima Jr.

Lima Barreto morreu num asilo de velhos em Campinas, aos 72 anos de idade.

(Fonte: filmescopio.50webs.com/cineastas/lbarreto)

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