Walter Lippmann: visão pessimista da democracia e da relação entre os meios de comunicação e as massas
Walter Lippmann (Nova York, 23 de setembro de 1889 – Nova York, 14 de dezembro de 1974), filósofo, jornalista, analista político e assessor do presidente Woodrow Wilson.
Em poucos momentos da história do Ocidente, os homens se esforçaram tanto para compreender seu tempo. O norte-americano Walter Lippmann (1889 – 1974) foi um dos pensadores que trilharam este caminho. Filósofo, jornalista, analista político e assessor do presidente Woodrow Wilson, ele sintetizou conhecimentos e experiências políticas no livro Opinião Pública. Neste ensaio, publicado pela primeira vez em 1922, eram profundas as marcas do tempo presente – da I Guerra Mundial, finda em 1918; e da revolução bolchevique, que começara a transformar a face geopolítica da Terra, a partir de 1917.
Diante das práticas dos governos, durante o conflito, e da construção de um novo ambiente político pelos soviéticos, Walter Lippmann se questiona quanto às possibilidades reais de haver uma democracia. A resposta que sugere – afinal, trata-se de um ensaio, com o característico inacabamento do gênero – é a de que esta se coloca como uma meta impossível de ser alcançada, tendo em vista a situação das populações das sociedades modernas.
A tese de Lippmann tem duas marcas distintivas: a crença no funcionamento de um modelo aristocrático de gestão da sociedade (o governo dos melhores); e uma leitura pessimista tanto das formas de governo contemporâneas à escrita da obra, como da atuação das mídias de então. Daí não ser impossível traçar um paralelo entre sua teoria e aquelas desenvolvidas por Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamin, Max Horkheimer na Escola de Frankfurt. A principal diferença é que, com a experiência do totalitarismo fascista, os frankfurtianos se mostraram incrédulos quanto a um governo dos melhores, para o bem comum. Afinal, não era assim que se vendiam os nazistas?
Créditos esquecidos
Com as mudanças políticas por que passou o País na redemocratização, veio uma espécie de ressaca do marxismo. Num cenário político mais elástico, outros autores entraram em cena e muitos continuadores de Marx ficaram fora de moda. Foi o caso dos frankfurtianos (apenas Benjamin é visto, hoje, como um pensador cool). Ainda assim, obras como A Dialética do Esclarecimento, de Adorno e Horkheimer, e O Homem Unidimensional, de Herbert Marcuse, continuam a ser lidas. Refutadas ou não, são clássicos do pensamento social e dos cursos de comunicação.
A obra de Lippmann teve um destino bem distinto no Brasil. Seu nome era apenas um eco. Suas idéias chegavam por meio de comentadores. Assim, a obra caiu num desmerecido ineditismo. Só agora, Opinião Pública ganha sua primeira edição em português. O livro sai com tradução de Jacques A. Wainberg, doutor em comunicação e professor titular da PUC do Rio Grande do Sul. É, ainda, o título que abre a coleção Clássicos da Comunicação Social, da editora Vozes, coordenada pelo pesquisador Antonio Hohlfeldt.
Sua leitura vem a calhar. Neste primeiro contato tardio, é possível ter dimensão de sua importância da obra e de como ela foi injustiçada. Lippmann é o autor de uma concepção de estereótipos criados pelos meios de comunicação que, ainda hoje, aparece em discursos críticos. O problema é a forma como este pensamento reaparece: uma caricatura que parte mais de preconceitos do que da observação dos fenômenos, formulando uma crítica paranóica às ações dos meios de comunicação de massa.
Lippmann era, até certo ponto, um intelectual conservador. Ainda assim, era um pensador refinado, pelo caráter pragmático de seu pensamento, menos virulento que aquele típico dos frankfurtianos, e pela clareza da argumentação. É este, justamente, um dos grandes méritos do livro. Lippmann fala da impossibilidade de se comunicar e, ao mesmo tempo, das construções sociais (portanto, simbólicas). Isto já foi tema da sociologia, da antropologia e da semiótica, mas poucos conseguiram expor a complicada questão com tamanho desembaraço.
(Fonte: Zero Hora ANO 49 Edição n° 17.134 JÁ FOI DITO 4 de setembro de 2012 – Pág; 48)
(FONTE: HTTP://DIARIODONORDESTE.GLOBO.COM – O TEMPO DAS IMPOSSIBILIDADES – MÍDIA E DEMOCRACIA – 24.01.2009)
(Fonte: macroscopio.blogspot.com/…/evocacao-de-walter-lippmann-natureza…)