Smetak: fama de inventor maluco de enorme contribuição como artista plástico
Walter Smetak (Zurique, 12 de fevereiro de 1913 – Salvador, Bahia, 30 de maio de 1984), escultor e músico suíço radicado no Brasil, em Salvador, Bahia. Protagonista de exóticos concertos que tinham como roteiro a pura improvisação.
O suíço Anton Walter Smetak, costuma ser lembrado como o excêntrico inventor de instrumentos musicais que, nos anos 70, em Salvador, onde morava, foi descoberto por Caetano Veloso e Gilberto Gil em sua oficina no porão da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia.
Smetak tocava sua música aérea e aleatória com verdadeira extensão da sua arte. Em seu alucinado mergulho na invenção de instrumentos musicais com matérias-primas do artesanato popular, Smetak rompeu a fronteira da música e invadiu o espaço das artes plásticas, criando uma categoria especial, a das esculturas sonoras, com surpreendentes e equilibradas combinações de volumes e cores.
Autodidata, sem formação específica de escultor, ele foi original inventor de formas no espaço. Uma seleção de 52 dessas obras, produzidas entre as décadas de 50 e 80 foi exposta em 5 de março de 1989 na Galeria São Paulo.
Smetak chegou ao Brasil em 1937, aos 24 anos, e trabalhou até os anos 60 como um sóbrio e eficiente violoncelista das orquestras sinfônicas de Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo, antes de se radicar em Salvador, Bahia. Lá, além de incorporar-se à sinfônica local, foi admitido como professor de seminários de música da universidade. Mas nunca chegou a se integrar ao ambiente acadêmico. Sua atuação era tão subterrânea quanto sua oficina de trabalho. Sua apar~encia era o estereótipo do inventor maluco – mergulhado num ofício cujo resultado não se entendia muito bem.
A produção escultórica mais significativa de Smetak concentra-se entre 1968 e 1978, período em que criou a maioria das peças. Segundo a cartilha de Smetak, cada cor simbolizava algo preciso: o azul, “a atividade”, o vermelho, “as forças geradoras”, o amarelo, o “mental abstrato”, o verde, o “mental concreto”, e o ouro, “a sabedoria”.
TROPICAL – À vibração de cada cor, segundo Smetak, corresponderia a vibração de cada som, tornando possível ouvir e ver a música. Há uma simbologia também na forma. A casca oval, lisa e resistente das cabaças – utilizadas como prato ou garrafa no Nordeste – seria a reprodução vegetal do globo terrestre, da vida, do útero. Também poderia ser a cabeça humana, o raciocínio. Uma das esculturas sonoras mais emblemáticas é Vina, de forma quase humana, com cabeça enorme e ventre bojudo, som semelhante ao cravo e que Smetak reputava como sua obra preferida, síntese de sua visão mística e metáfórica.
(Fonte: Veja, 1° de fevereiro de 1989 – Edição 1065 – ARTE/ Por ANGÉLICA DE MORAES – Pág: 96/97)