Escreveu o primeiro trabalho a abordar os problemas e possibilidades da arte abstrata
Wassily Kandinsky (Moscou, 4 de dezembro de 1866 – Neuilly-sur-Seine, 14 de dezembro de 1944), grande mestre da pintura internacional, o pai da arte abstrata, o Mestre da Escola de Paris. Utilizou-se a expressão Escola de Paris em seu sentido mais amplo e discutível: todos os pintores que, ao longo do último meio século, escolheram a capital francesa como sua cidade de eleição.
Na verdade, o rótulo surgiu na história das artes pelo menos três vezes: no século XV, designando uma escola de miniaturistas, no XVII, englobando vários artistas europeus que pintavam em Paris, e contemporaneamente, primeiro em caráter restritivo, e mais tarde genérico. Os membros originais da Escola de Paris foram apenas uns poucos pintores judeus, vindos de países tão distintos quanto a Bulgária, a Itália, a Rússia e a Lituânia, e entre os quais só conservavam lugares de relevo, como Chain Soutine (1894-1943) e Amedeo Modigliani (1884-1920).
Por acréscimo, entretanto, surgem todos os demais nomes famosos do século 20, que, sem qualquer preocupação de unidade, projeto ou estilo, se fixaram em Paris. E, nesse aspecto, o encerramento artístico vale como um pequeno resumo de estrelas que cintilaram desde o fin de siècle na cidade-luz. Por exemplo: Pablo Picasso (1881-1973), Georges Braque (1881-1955), Fernand Léger (1881-1955), o francês Maurice Utrillo (1883-1955), Juan Miró (1893-1983), os surrealistas René Magritte (1898-1967), Ives Tanguy (1900-1955) e Salvador Dalí (1904-1989), a portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992). E até mesmo o gênio solitário e iridescente suíço-alemão Paul Klee (1879-1940), que só esteve em Paris em rápida passagem, e nada tem a ver com sua Escola.
Nascido em Moscou, em dezembro de 1866, Kandinsky viveu desde a juventude no exterior. De 1914 a 1921 voltou à Rússia, seguindo depois para a Alemanha e a França. Tornou-se cidadão francês em 1939 e morreu em dezembro de 1944 em Neuilly-sur-Seine. Sua grande importância na arte contemporânea baseia-se sobretudo no fato de que ele foi comprovadamente o primeiro pintor do século XX a adotar e defender a linguagem abstrata.
Kandinsky nunca teve nenhuma relação com a política. Quando o convidaram para trabalhar para o regime soviético, ele avisou: “Não sou comunista nem marxista. Mas terei muito prazer em ser útil à Rússia ocupando-me apenas do meu setor.” Por isso, entre outras coisas, tornou-se professor da Academia de Moscou e criou 22 museus. No começo, Lênin havia declarado a liberdade total na expressão artística – e esse foi o momento mais interessante da arte moderna na Rússia, seu florescimento. Quando Lênin adoeceu, alguns membros do partido começaram a criar dificuldades.
Quando Lênin adoeceu, alguns membros do partido começaram a criar dificuldades. Kandinsky era muito honesto com suas ideias e, apesar das numerosas advertências, passou a protestar. Nesse instante, chegou o convite para a Bauhaus. E ele concluiu: “É hora de partir. Aqui já não posso trabalhar como devo.” Kandinsky lecionou na Escola de arte, fundada pelo alemão Walter Gropius (1883-1969) em 1919, onde se procurou reunir harmoniosamente arquitetura, pintura e escultura, até a chegada de Hitler.
De 1922 a 1933, Kandinsky lecionou na Bauhaus, primeiro em Weimar, depois em Dessau, quando a escola se mudou para lá. Em 1933, Kandinsky estava de férias na França e acompanhou pelo rádio o discurso de Hitler em Nuremberg. Quando ouviu dizer que a arte moderna era feita por criminosos ou loucos, ficou claro que Kandinsky não podia voltar para a Alemanha.
No fim do século XIX, Kandinsky viu pela primeira vez uma exposição dos impressionistas e, diante de um quadro de Monet, “Monte de Feno”, colocou-se pela primeira vez uma questão: “Será que a arte não pode ir mais longe? Ser tão livre em sua expressão quanto a música, por exemplo, com suas sonatas e sinfonias?” Essa questão foi pensada e elaborada durante anos, e Kandinsky fazia contínuas anotações sobre ela.
Em 1910, escreveu seu livro “Sobre o Espiritual na Arte”, que é o primeiro trabalho a abordar os problemas e possibilidades da arte abstrata. Por outro lado, Kandinsky achava que um pintor não pode partir para a teoria antes de ter feito a prática. Como exercício, já pintara abstração antes de 1910. Mas oficialmente, como opção, a primeira aquarela abstrata é de 1910, e o primeiro óleo do ano seguinte.
(Fonte: Veja, 17 de dezembro de 1975 Edição 380 ARTE/ Por Marinho de Azevedo Pág; 116/117 e 118)
(Fonte: Veja, 17 de outubro de 1973 – Edição 267 – Recordações – Pág: 134/135)
Foi com a aquarela que, em 1910, o mestre russo pintou o primeiro quadro abstrato, inaugurando uma nova era na história da arte.
(Fonte: Veja, 30 de novembro de 1988 ANO 21 – N° 48 – Edição 1056 ARTE Pág; 140/141)