Winnie Madikizela-Mandela, ativista anti-apartheid e ex-mulher do primeiro presidente negro sul-africano Nelson Mandela

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Ativista sul-africana Winnie Mandela foi o ícone da libertação

Ativista anti-apartheid e ex-mulher do primeiro presidente negro sul-africano

 

Winnie Madikizela Mandela, ex-mulher do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, faz gestos a apoiadores na 54ª Conferência Nacional do Congresso Nacional Africano (ANC) no Centro de Exposições Nasrec em Joanesburgo, África do Sul, 16 de dezembro de 2017. (Foto: REUTERS / Siphiwe Sibeko / File Photo)

 

 

Winnie Madikizela-Mandela (Bizana, 26 de setembro de 1936 – 2 de abril de 2018), ativista ícone da luta antiapartheid, que foi mulher do ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela durante as décadas que ele passou na cadeia.

A sul-africana foi casada com Nelson Mandela durante os 27 anos em que ele ficou preso e foi uma das vozes na luta pelos direitos dos negros na África do Sul. A ativista antiapartheid e ex-mulher do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, foi casada com o ex-presidente sul-africano por 38 anos, entre os quais 27 anos ela passou longe do marido, durante o longo tempo que Mandela passou na prisão – primeiro na ilha de Robben Island e, mais tarde, nas prisões de Pollsmoor e Drakenstein.

 

Winnie Mandela foi presa diversas vezes por sua participação na luta contra o governo de minoria branca e fez campanha pela libertação de seu então marido tanto no país como internacionalmente.

Winnie, como entretanto se tornou conhecida, nasceu Nomzamo Winifred Zanyiwe Madikizela a 26 de setembro de 1936, na aldeia de Mbongweni, perto da cidade de Bizana, na atual província do Cabo Oriental. O nome próprio – Nomzamo significa “aquela que luta” – foi premonitório.

A imagem do casal caminhando de mãos dadas no dia da libertação de Mandela, em 1990, correu o mundo. Dois anos mais tarde, eles se separariam. O divórcio saiu em 1996, após um longo processo que envolveu revelações de infidelidade por parte de Winnie.

Há muitas fotografias onde a encontramos de punho direito erguido, mas a sua foto que mais voltas terá dado ao mundo é aquela em que dá a mão a Nelson Mandela e ergue o braço esquerdo, punho cerrado, deixando o braço direito do seu marido livre para se erguer nessa caminhada que foi a sua saída da prisão, a 11 de fevereiro de 1990.

 

Winnie Mandela com o braço esquerdo, de punho cerrado. (Foto: WTOP/ DIREITOS RESERVADOS)

 

A luta de Nelson Mandela foi a sua. Sofreu a prisão, a tortura, foi confinada à sua casa, expulsa para uma cidade remota; o regime que lhe prendeu o marido nunca a deixou em paz. Mas ao contrário de “Tata” (Pai), a mulher que muitos viam como “Mãe da Nação” não é uma figura consensual na África do Sul.

 

Assistente social

 

Muito jovem, partiu para a gigante Joanesburgo onde se licenciou (uma absoluta raridade para uma mulher negra na altura) e se tornou na primeira assistente social negra da África do Sul. Foi a trabalhar no Hospital Baragwanath, no subúrbio que viria a fazer casa e palco de luta do Soweto, que começou o seu despertar político.

Ao investigar a mortalidade infantil noutro subúrbio de Joanesburgo, Alexandra, percebeu que em cada 1000 nascimentos morriam dez bebés. “Comecei a aperceber-me da pobreza abjeta em que a maioria das pessoas era forçada a viver, as condições chocantes criadas pelas desigualdades do sistema”, diria mais tarde.

Foi por esta altura que conheceu Nelson Mandela, em 1957, numa paragem de autocarro do Soweto, tinha ela 21 anos e era ele casado. Casaram no ano seguinte, Mandela divorciado e pai, com 40 anos.

Em breve (1961) ele teria de passar à clandestinidade, antes de ser preso, em 1963, condenado a prisão perpétua um ano depois. Winnie ficou sozinha com as filhas de ambos e tornou-se numa espécie de porta-voz do marido, enfrentando ela própria a perseguição do regime e liderando as suas próprias lutas, contando sempre com o apoio de Mandela.

 

Prisão e caixas de fósforo

 

Em 1969, Madikizela-Mandela tornava-se numa das primeiras pessoas detidas ao abrigo da Sessão 6 da Lei do Terrorismo de 1967. Passou 18 meses em solitária na Prisão Central de Pretória, antes de ser acusada sob a Lei da Supressão do Comunismo, de 1950.

Várias vezes detida, foi colocada em prisão domiciliária no seu subúrbio do Soweto, em Joanesburgo. Em 1976, ano dos motins do Soweto, animava os estudantes do subúrbio a “combaterem até às últimas consequências”. Começava também a ser chamada “Mãe da Nação” pelos mais pobres.

Meses depois, o regime dava-lhe a escolher entre o exílio na Suazilândia ou a permanência no país. Por ter escolhido a segunda opção, que significava também continuar a lutar, foi enviada para a cidade agrícola de Brandfort – aqui, a casa que lhe foi destinada não tinha tecto, chão, água ou electricidade e pelo menos uma vez foi incendiada.

As actividades que fizeram dela uma figura polémica, repudiada entre alguns membros da luta pela libertação dos negros, incluindo membros do ANC (Congresso Nacional Africano), começaram um pouco depois, já nos anos 1980. Foi então que se fez rodear de um grupo de guarda-costas, vigilantes, a que chamou Mandela United Football Club (MUFC), que ganharam uma reputação de violência brutal.

Nessa altura foi relacionada com os assassínios de suspeitos dissidentes ou traidores atribuídos a este grupo e cometidos através do método do colar-de-fogo (necklacing), que consistia em colocar um pneu em chamas em redor do pescoço das vítimas. Ao mesmo tempo, era cada vez mais líder entre os que perseguiam o derrube do regime pela força. “Vamos libertar este país com as nossas caixas de fósforos e os nossos colares”, afirmou num discurso em 1986.

 

A luta antiapartheid

 

A ativista sul-africana nasceu na província do Cabo Oriental, no sul do país, e, aos 19 anos, recebeu seu diploma de assistente social, uma exceção para uma mulher negra naquela época.

 

 

Winnie se casou com Mandela em junho de 1958 – ela com 21 anos e ele com quase 40, pai de três filhos e recém-divorciado de sua primeira mulher, Evelyn Ntoko Mase.

 

 

Com a prisão do marido, ela assumiu a liderança da luta contra o governo de minoria branca na África do Sul, mas passou a ser vista como uma ameaça para o movimento de libertação depois que começou a enfrentar acusações de assassinato e tortura contra supostos traidores.

 

 

Sua reputação foi fortemente prejudicada após um discurso que ela deu em 1986 endossando uma prática conhecida como “necklacing” como punição para traidores da causa defendida pelo Congresso Nacional Africano (ANC), de seu marido. O termo se refere ao método brutal de colocar um pneu em volta do pescoço de alguém e atear fogo.

 

 

Winnie foi presa diversas vezes por suas atividades antiapartheid. Em 1991, foi julgada e condenada a seis anos de prisão – sentença posteriormente convertida em multa – pelo sequestro de um jovem militante, Stompie Seipei.

 

 

Em 1998, a Comissão da Verdade e Reconciliação, encarregada de julgar os crimes políticos durante o apartheid, considerou Winnie “politicamente e moralmente culpada de enormes violações dos direitos humanos”. Ela negou envolvimento em qualquer assassinato.

 

 

O arcebispo Desmond Tutu, que liderou a comissão, falou sobre Winnie na ocasião: “Ela foi uma tremenda fortaleza em nossa luta e um ícone da libertação – mas algo deu errado, terrivelmente e gravemente errado”.

 

 

Após Mandela ser eleito o primeiro presidente negro da África do Sul, em 1994, Winnie ocupou o cargo de vice-ministra em seu governo, sendo mais tarde demitida por insubordinação. Em 2009, ela renovou a carreira política ao conquistar um assento no Parlamento sul-africano.

 

 

 

Condenação e divórcio

 

 

 

Já depois da libertação de Nelson Mandela, Winnie foi julgada e condenada pelo rapto e ataque que terminaria na morte de Stompie Moeketsi, um adolescente de 14 anos suspeito de ser um informador, raptado em 1989 por membros do seu MUFC, morto pouco depois. Em 1991, foi condenada a seis anos de prisão mas a sentença foi revista em recurso e reduzida a uma multa e a dois anos de pena de prisão suspensa.

 

 

Enquanto decorria o julgamento, desfazia-se o casamento com Mandela, com o próprio processo a trazer a público um caso que Winnie teve com um dos seus guarda-costas. A separação aconteceu em 1992, o divórcio chegaria em 1996, já ele era Nobel da Paz e o primeiro Presidente negro da África do Sul, já ela tinha sido eleita deputada nas primeiras eleições livres do país, nomeada ministra-adjunta das Artes e da Cultura e afastada desse cargo pelo chefe de Estado, acusada de insubordinação.

 

 

Quando apareceu perante o arcebispo Desmond Tutu nas audiências da Comissão de Verdade e Reconciliação, negou o envolvimento em quaisquer assassínios, mas não faltavam testemunhos a implicá-la. “A sua coragem desafiante foi uma inspiração profunda para mim e para gerações de ativistas”, diz agora Tutu na reação à sua morte. Durante as audiências Tutu afirmou de Winnie que foi “uma fabulosa apoiante da nossa luta e um ícone da libertação, mas a certa altura algo correu horrivelmente mal”.

 

 

No relatório final da Comissão escreve-se que Winnie foi “política e moralmente responsável por grosseiras violações de direitos humanos cometidos pelo MUFC”.

 

 

Nos últimos anos, voltou a estar envolvida em polêmicas. Primeiro, foi condenada por fraude por causa de um esquema de empréstimos bancários para pessoas que não teriam condições para os fazer. Mais recentemente, foi citada num longo artigo de Nadira Naipul no jornal The Evening Standard como chamando “cretino” a Tutu e “vendido” ao ex-marido.

 

 

O artigo teve como base uma conversa na sua casa com Nadira e o marido, o escritor V.S. Naipul. Winnie desmentiu ter “dado qualquer entrevista”. Entretanto, foi afastada e de novo integrada nos principais órgãos do ANC e voltou a ser eleita deputada em 2009.

 

 

Em 2016, três anos depois da morte do ícone maior da luta contra o apartheid e da reconciliação sul-africana, Madikizela-Mandela recebeu a Ordem de Luthuli pela “excelência da sua contribuição na luta pela libertação do povo da África do Sul”.

 

 

“Nunca desistiu”, escreve o jornalista da BBC Milton Nkosi. “Nunca cedeu. Nem um centímetro – e, às vezes, isso trouxe-lhe problemas. Como nota em sua defesa o ativista anti-apartheid Mosiuoa Lekota [atual líder do ANC]: ‘Os que não fizeram nada durante o apartheid nunca cometeram erros’.” É por isso que Nkosi conclui: “Ela vai ser lembrada pela sua luta contra um sistema desumano, não pelos erros que cometeu nesse combate.”

 

 

Winnie afirmou recentemente que visitara o ex-marido com frequência em seus últimos meses de vida, tendo estado presente quando ele morreu, em dezembro de 2013.

 

Winnie Mandela morreu em 2 de abril de 2018, aos 81 anos.

O arcebispo e Nobel da Paz Desmond Tutu descreve-a como um “símbolo fundamental” do combate ao apartheid. “Ela recusou ser dobrada pela prisão do marido, o assédio perpétuo à sua família pelas forças de segurança, pelas detenções, expulsões e banimentos”, afirma Tutu num comunicado.

Em declaração após a morte de Winnie, Tutu afirmou que a ativista, com “sua coragem desafiadora”, foi “profundamente inspiradora para mim e para uma geração de ativistas”. “Ela negou se abater após a prisão de seu marido, o assédio perpétuo sofrido por sua família por forças de segurança, as detenções e proibições”, lembrou o arcebispo, vencedor do Nobel da Paz.

(Fonte: https://www.publico.pt/2018/04/02/mundo/noticia – – MUNDO – NOTÍCIA / Por SOFIA LORENA – 2 de Abril de 2018)

(Fonte: Deutsche Welle – ÁFRICA DO SUL – MUNDO – NOTÍCIAS – 02.04.2018)

(Fonte: Zero Hora – Ano 54 – N° 19.053 – 3 de abril de 2018 – TRIBUTO / MEMÓRIA – Pág: 35)

(Fonte: https://www.terra.com.br/noticias/mundo – NOTÍCIAS – MUNDO – 02/04/2018)

Reuters – Esta publicação inclusive informação e dados são de propriedade intelectual de Reuters. 

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