Yevgeny Khaldei, foi o maior fotógrafo soviético na II Guerra Mundial

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Yevgeny Khaldei taking photos de Moscou victory parade em 24 Junho de 1945 (riowang.blogspot.com)

Yevgeny Khaldei taking photos de Moscou victory parade em 24 Junho de 1945 (riowang.blogspot.com)

Yevgeny Khaldei (Donetsk, Ucrânia, 23 de março de 1917 – Moscou, 6 de outubro de 1997), foi o maior fotógrafo soviético na II Guerra Mundial

Com uma ideia na cabeça, uma câmara em uma das mãos e uma arma na outra, o jovem tenente-fotógrafo Ievgeni Khaldei chegou a Berlim em 1945, nos últimos momentos da batalha em queo Exército soviético acabava de derrotar Hitler.

Yevgeny Khaldei, foi o maior fotógrafo soviético na II Guerra Mundial (lumieregallery.net)

Yevgeny Khaldei, foi o maior fotógrafo soviético na II Guerra Mundial (lumieregallery.net)

 

Tinha equipamento precário e filme racionado, mas achou meios de produzir a imagem monumental de um momento da História – o hasteamento da bandeira da União Soviética no alto do Reichstag, o Parlamento alemão, talvez a foto mais importante do século XX.

 

Foi o ponto alto dos mais de quatro anos em que retratou a guerra nas diversas frentes de combate por onde andou. Durante décadas, seu trabalho permaneceu quase desconhecido e sem assinatura, louvado apenas pelos especialistas que, fora da Rússia, admiravam suas imagens notáveis.

 

Khaldei reconstituiu, como montou – literalmente – o cenário para sua foto mais famosa, Hasteamento da Bandeira Vermelha sobre o Reichstag, 2 de Maio de 1945. A inspiração veio de outro ícone: a foto da tomada da Ilha de Iwo Jima, no Japão, pelas tropas americanas, ocorrida três meses antes, igualmente montada.

Hasteamento da Bandeira Vermelha sobre o Reichstag, 2 de Maio de 1945 (www.thefempire.org)

Hasteamento da Bandeira Vermelha sobre o Reichstag, 2 de Maio de 1945 (www.thefempire.org)

 

Khaldei gostou da ideia e planejou sua foto com cuidado, tanto que já chegou a Berlim munido de uma bandeira vermelha na bagagem – na verdade, uma toalha de mesa à qual pedira a um tio alfaiate em Moscou que aplicasse a foice, o martelo e a estrela.

Consumida a vitória, chamou um grupo de soldados soviéticos, armou a cena da bandeira dominando a cidade bombardeada e disparou um filme inteiro. No laboratório, ainda teve de fazer dois retoques nas fotos selecionadas para divulgação: mudou a direção das chamas sobre Berlim destruída, para dar mais impacto dramático, e apagou um relógio do pulso de um soldado.

O segundo retoque foi ordem de Stalin – o soldado tinha dois relógios, um em cada pulso, provável produto dos saques, comportamento incompatível com um combatente do Exército Vermelho, embora amplamente exibido na prática.

Na mesma Berlim, Khaldei, sempre com uma Leica de prontidão, flagraria outras cenas – estas sem preparação – daquele fim de guerra, como a dos berlinenses na calçada assistindo à chegada dos tanques soviéticos sem saber direito o que acontecia. Khaldei cobriu a guerra – como tenente da Marinha e fotógrafo da agência Tass – desde a invasão alemã da URSS, em 1941, quando partiu para a frente de combate com apenas 50 metros de filme, porque seu editor calculava que a batalha não ia durar mais que duas semanas.

Durou quatro anos e, na União Soviética, matou 20 milhões de pessoas, incluindo o pai e as irmãs do fotógrafo. Nesse período, Khaldei fez fotos de combate e do movimento de tropas, mas sua especialidade desde cedo foram as ruas e os personagens da guerra. Em uma delas, um casal de judeus, estrelas amarelas ainda pregadas no casaco, acaba de ser libertado do gueto de Budapeste, em janeiro de 1945. “Eles olhavam para mim como se esperassem que fosse mata-los”, relembrou Khaldei.

Também esteve em Viena, onde fotografou um oficial nazista que matou a família e se suicidou na cidade recém-liberada, e em Sebastopol, livre mas em ruínas, onde fez uma foto que mostra oficiais soviéticos de alta patente e suas famílias tomando sol na praia semidestruída pelos bombardeios.

De volta a Moscou, fotografou o épico desfile da vitória, em que soldados soviéticos depuseram bandeiras e despojos nazistas aos pés de Stalin e de outros figurões do regime.

Também foi mandado para Nuremberg, onde sua câmara flagrou, no meio do ambiente tenso e formal do julgamento dos chefes nazistas capturados no fim da guerra, os prisioneiros em situações mais reveladoras, como a foto em que Hermann Goering conversa com seu advogado através de uma tela de arame.

Sem crédito – Muitas dessas fotografias viraram páginas dos livros de História soviéticos, sem que jamais constasse delas o nome de Khaldei. A da tomada do Reichstag – símbolo da derrota do nazismo e, ao mesmo tempo, da ascensão do comunismo – correu mundo, sempre sem crédito ao autor.

Primeiro, porque nunca foi hábito na URSS dar crédito aos autores de fotos, atividade considerada menor. Depois, pelo fato de ele ser judeu, condição que o levou a enfrentar perseguições e sofrimento na URSS desde que nasceu, em 1917, o ano da Revolução Russa. Com menos de 1 ano, estava no colo da mãe quando os dois foram atingidos por uma mesma bala, durante um pogrom na Ucrânia. Ele ficou gravemente ferido; ela morreu na hora.

Três anos depois de voltar da guerra, em 1948, Khaldei foi demitido da Tass, vítima de uma das periódicas ondas de anti-semitismo que varriam os órgãos oficiais soviéticos. Passado um tempo, entrou para o Pravda, o jornal do Partido Comunista, para ser novamente despedido, outra vez por ser judeu, em 1972. De lá para cá, sobreviveu como pôde – mas sempre fotografando -, até 1991, quando afinal se aposentou, já na Rússia pós-comunismo.

Khaldei viveu em um apartamento no 6º andar de um prédio simples, em Moscou, em que o único cômodo servia de sala, quarto, escritório, laboratório e arquivo de negativos de sessenta anos de fotografia.

Yevgeny Khaldei faleceu em Moscou, em 6 de outubro de 1997, aos 80 anos.

(Fonte: Veja, 5 de março de 1997 – ANO 30 – N° 09 – Edição 1485 – HISTÓRIA/ Por Lizia Bydlowski – Pág: 50/52)

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