Yul Brynner, ator de ‘O Rei e Eu’ e ‘Os Dez Mandamentos’
Oscar do ator foi um dos mais contestados da história.
Brynner: magnético
Yul Brynner (nascido Yuli Borisovich Bryner, Vladivostok, 11 de julho de 1920 – Nova York, 10 de outubro de 1985), foi um ator russo-norte-americano.
Ator americano nascido nas Ilhas Sacalinas em 11 de julho de 1920, atualmente parte da União Soviética, que se tornou célebre como protagonista do musical O Rei e Eu, que representou 4 635 vezes até julho de 1985.
O mesmo musical foi transposto para a tela – o que o forçou a raspar a cabeça. A careca emprestou a seu rosto oriental um ar de magnetismo e mistério que se firmou como sua marca registrada em quarenta filmes.
Nasceu Yully Borisovich Briner, numa ilha remota da Sibéria Oriental, mas ele próprio teceu a lenda de que era natural de Vladivostok, junto às fronteiras da China e da Coreia do Norte.
A cidade sempre foi conhecida como a estação final da Ferrovia Transiberiana, o que no imaginário universal significa – um lugar no fim do mundo. Foi de lá que ele veio. Estudou em Paris e, aos 13 anos, ligou-se a um grupo de músicos, Foi trapezista e mímico no Circo de Inverno, maquinista no Teatro des Mathurins. Em 1941, desembarcou em Nova York integrando uma trupe de teatro moscovita. Pelos mais de 40 anos seguintes, tornou-se um ator russo-americano.
Em 1945, já era um nome na Broadway. Quatro anos mais tarde, estreou cabeludo no cinema, num papel de gângster intenso e sedutor em Porto de Nova York, de Laslo Benedek. Mais alguns anos e ele estourou – na Broadway – na versão musical de Anna e o Rei do Sião, por Rodgers e Hammerstein. A história de Anna Leonowens deu origem ao livro de Margaret Landon que John Cromwell filmara com Irene Dunne e Rex Harrison em 1946. Ganhou canto, dança e virou O Rei e Eu. Para fazer o papel – Deborah Kerr era a sua Anna – Brynner raspou a cabeça e a careca tornou-se sua marca registrada. Físico atlético que o figurino exótico deixava parcialmente à mostra, voz grave, a origem que ele apregoava como mongol. Tudo isso contribuía para a aura. Tinha até um nome alternativo – Tadji Khan.
Em 1956, a versão cinematográfica de O Rei e Eu, por Walter Lang, ganhou Oscars de trilha, direção de arte e figurinos em cores, som e o mais luminoso de todos, o de melhor ator para Brynner. Nos anos seguintes e sempre explorando sua persona exótica e sexy/viril, ele interpretou sucessivamente um faraó, um nobre russo, um pirata francês, o rei Salomão, Taras Bulba, um príncipe maia e, em meio a todos eles, conseguiu fazer um personagem de pistoleiro que se tornou tão icônico como o rei do Sião. Chris, de Sete Homens e Um Destino/The Magnificent Seven, retornou em A Volta dos Sete Homens, de Burt Kennedy, e virou máquina na adaptação, por Michael Crichton, de sua fantasia científica. Westworld, de 1973, ganhou no Brasil o acréscimo de Onde Ninguém Tem Alma ao título original.
Todos esses filmes e papeis – Os Dez Mandamentos, Os Irmãos Karamazov, Salomão e a Rainha de Sabá, Lafitte o Corsário, Os Reis do sol, e também Ainda Uma Vez com Emoção, Morituri, Convite para Um Pistoleiro, A Louca de Chaillot, etc – mostravam Yul Brynner multiplicando-se para permanecer sempre o mesmo. E foi assim que ele impôs o cosmopolitismo no star system de Hollywood. Tornou-se globe-trotter, levando sua estrela à França (O Testamento de Orfeu, de Jean Cocteau) e Itália (Adeus, Sábata, de Gianfranco Parolini). Voltou a ser cabeludo em Villa, o Caudilho, de Buzz Kulik, de 1968, medíocre apesar do roteiro coescrito por Robert Towne e Sam Peckinpah.
Nunca foi um grande ator, e o seu Oscar foi um dos mais contestados da história. Naquele ano, quem deveria ter vencido, segundo os críticos, era Kirk Douglas, pelo Van Gogh de Sede de Viver/Lust for Life, de Vincente Minnelli. Mas a Academia preferiu Brynner, talvez porque ele estivesse em três filmes, todos indicados para o prêmio em muitas categorias. Os outros dois eram Os Dez Mandamentos, de Cecil B. de Mille, e Anastásia, A Princesa Esquecida, de Anatole Litvak, pelo qual Ingrid Bergman venceu seu segundo Oscar. O prestígio do prêmio pesou sempre em seu currículo. Quando as grandes produções começaram a escassear para ele, voltou ao palco no revival de O Rei e Eu. Presença nunca lhe faltou, na tela e no palco.
Relembre os seus principais sucessos
Os principais filmes de Yul Brynner:
O Rei e Eu
De Walter Lang, 1956. O rei do Sião contrata governanta inglesa para educar seus numerosos filhos. Os choques de temperamentos e cultura são inevitáveis, mas com happy end. O musical de Rodgers e Hammerstein numa versão meio pesadona, mas visualmente suntuosa. Oscar de melhor ator para Brynner, Deborah Kerr é dublada por Marni Nixon. Canções – Getting To Know You e Shall We Dance?
Os Dez Mandamentos
De Cecil B. De Mille, 1956. O Êxodo, com efeitos avançados para a época. A Bíblia, segundo De Mille – sexo + violência. Como Moisés, Charlton Heston carrega as tábuas da lei, mas Brynner, como faraó, com aquele figurino, tem presença (e exibe o corpo atlético).
Anastásia, a Princesa Esquecida
De Anatole Litvak, 1956. Brynner seleciona refugiada que perdeu a memória para se passar pela herdeira dos Romanovs. Na grande cena, Helen Hayes, como as grã-duquesa, confronta a suposta neta: Ela é, ou não é? Ingrid Bergman ganhou o segundo Oscar e foi readmitida em Hollywood, após o intermezzo com Roberto Rossellini na Itália. O elenco, e isso inclui Brynner, faz a diferença.
Salomão e a Rainha de Sabá
De King Vidor, 1959. Brynner foi chamado às pressas para substituir Tyrone Power, que morreu durante as filmagens. Cenas dele à distância foram mantidas. Gina Lollobrigida faz Shebah e o filme tem seus momentos, mas foi uma pálida despedida para o grande diretor famoso pelo erotismo de suas heroínas.
Sete Homens e Um Destino
De John Sturges, 1960. O vibrante western que transpõe Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa, para o Wild West, na fronteira mexicana. Brynner faz Chris, que recruta os sete pistoleiros (Steve McQueen, James Coburn, Charles Bronson, etc). Ele caminha daquele jeito que marcou o personagem e depois foi reproduzido como robô em Westworld.
Ainda Uma Vez com Emoção
De Stanley Donen, 1960. Mesmo não estando à altura dos melhores momentos do diretor (Cantando na Chuva, Sete Noivas para Sete Irmãos, Um Caminho para Dois), essa comédia sobre a vida sexual de casais tem sua graça. Kay Kendsall (1927–1959), em seu último papel, é ótima como a insatisfeita mulher de um maestro caprichoso – Brynner.
Dois Homens Iguais
De Franklin J. Schaffner, 1967. No auge das tramas de espionagem, Brynner faz agente da CIA atraído aos Alpes suíços, onde o serviço secreto dos soviéticos tenta substituí-lo por um duplo. Britt Ekland perceberá a mudança? Schaffner, antes de O Planeta dos Macacos (e Patton, Rebelde ou Herói?), admitia que fez o filme por dinheiro. Mas tem boas cenas de ação na neve, além de Brynner em dose dupla.
Adeus, Sábata
De Gianfranco Parolini, 1970. Como Frank Kramere, o diretor já fizera uma série de Sábata com Lee Van Cleef. Brynner faz agora o pistoleiro que rouba ouro de Maximiliano para manter o movimento revolucionário no México. Como em todo spaghetti western, o que importa é a música – de Bruno Nicolai.
Westworld – Onde Ninguém Tem Alma
De Michael Crichton, 1973. Os amigos Richard Benjamin e James Brolin tiram férias, e aonde vão? A uma Disneylândia para adultos, composta por núcleos temáticos. Escolhem o Velho Oeste, mas os robôs escapam ao controle e eles são perseguidos por Brynner, reproduzindo o pistoleiro Chris de Sete Homens e Um Destino. Uma ficção científica notável pelo futuro escritor de Jurassic Park (onde os clones substituem robôs).
Brynner faleceu em 10 de outubro de 1985, de câncer no pulmão, em Nova York.
(Fonte: Veja, 16 de outubro de 1985 – Edição 893 – DATAS – Pág; 107)
(Fonte: https://www.terra.com.br/diversao/cinema – DIVERSÃO / CINEMA / Por Luiz Carlos Merten – 10 JUL 2020)