O ator francês Michel Piccoli, atuou em filmes de Luis Buñuel, Alain Resnais, Jacques Demy e outros grandes mestres do cinema europeu
Michel Piccoli (Paris, 27 de dezembro de 1925 – 12 de maio de 2020), lenda do cinema francês, famoso por seus papeis em “O Desprezo” e “As Coisas da Vida”.
Revelado em “O Desprezo” (1963), de Jean-Luc Godard, filme em que se uniu a Brigitte Bardot, Piccoli trabalhou em mais de 150 longas, de “La Grande Bouffe” (1973) a “Habemus Papam” (2011), seu último papel na tela.
Sua carreira também é inseparável dos filmes de Luis Buñuel (“A Bela da Tarde”, “Diário de uma Camareira”). Também trabalhou com grandes diretores como Renoir, Resnais, Demy, Melville, Vardà e Hitchcock.
Ele atuou em mais de 150 filmes, incorporando até um papa melancólico que sonha em se tornar anônimo nas ruas de Roma, no filme “Habemus papam” (2011) de Nanni Moretti. Foi um dos seus últimos grandes papéis.
Nascido em 27 de dezembro de 1925 em Paris, Piccoli definiu seus pais como “músicos sem paixão”, que “serviram como antimodelo”. Essa família que ele descreveu como “egoísta e racista” provavelmente pesou em sua rejeição à burguesia.
Quando jovem, ele fez cursos de teatro e fez sua estréia no cinema em “Le point du jour”, de Louis Daquin.
Em 1945, Piccoli, então com 20 anos, conheceu Jean-Paul Sartre e a artista Juliette Gréco – com quem se casou em 1966. Na mesma época entrou no Partido Comunista. O compromisso de Piccoli com a esquerda se manteve até o fim, inclusive publicamente, apoiando, por exemplo, candidatos presidenciais como o socialista François Mitterrand em 1981.
Descendente de italianos, Piccoli nasceu numa família de músicos – mãe pianista, pai violinista -, em Paris, no dia 27 de dezembro de 1925. A arte estava no horizonte e ele se tornou ator. Não apenas dirigiu para teatro, como dirigiu um teatro, o Babylone. Se não foi realmente sua estreia, a primeira vez que se fez notar na tela foi num filme de Jean Renoir – French Can-Can, de 1954.
Seguiu-se, dois anos depois, um filme de Luis Buñuel – La Mort en Ce Jardin, que passa na TV como A Morte no Jardim. Em 1963, foi o Ulisses moderno de O Desprezo, o mais clássico filme de Jean-Luc Godard, livremente adaptado do romance de Alberto Moravia. Piccoli faz o roteirista, marido de Brigitte Bardot, do filme dentro do filme, que o lendário Fritz Lang pretendeu rodar – uma versão de A Odisseia, interpretada por estátuas.
Em 1964, de novo com Buñuel, fez O Diário de Uma Camareira. Não parou mais de filmar. Tornou-se requisitado pelos maiores diretores – fez A Guerra Acabou, com Alain Resnais; A Bela da Tarde, com Buñuel; Duas Garotas Românticas, com Jacques Demy; A Comilança, com Marco Ferreri. Com Buñuel fez ainda O Estranho Caminho de São Tiago, O Discreto Charme da Burguesia, O Fantasma da Liberdade, Esse Obscuro Objeto do Desejo. Idem com Ferreri: Dillinger Está Morto, A Última Mulher.
Foi um dos atores preferidos do mestre português Manoel de Oliveira – Party, Vou Para Casa (no qual protagonizou a genial cena do sapato desamarrado), Espelho Mágico, Belle Toujours, Encontro Único (o episódio de Chacun son Cinéma). Voltou a Renais (Vocês Ainda não Viram Nada). E teve belos encontros com Claude Chabrol (Dez Dias Fantásticos), Louis Malle (Atlantic City e Primavera em Maio), Jacques Rivette (A Bela Intrigante), Nanni Moretti (Habemus Papam) e Léos Carax (Holy Motors).
Mas uma parceria precisa ser destacada, e talvez tenha sido a maior de todas. Em 1970, formou uma dupla inesquecível com Romy Schneider, então no auge da beleza e do talento, As Coisas da Vida, de Claude Sautet. O trio voltou em Sublime Renúncia e Mado. E, com Sautet, ainda fez Vicente, Paulo, Francisco e os Outros. Sautet filmava o homem comum, mesmo quando submetido a circunstâncias poderosas.
Sautet fez os filmes que François Truffaut, a partir de determinado momento de sua carreira, talvez gostasse de ter feito. Michel Piccoli casou-se três vezes. A segunda mulher foi a cantora e atriz, musa do existencialismo, Juliette Gréco.
A par de sua extraordinária carreira, Piccoli foi militante de esquerda, integrando o Movimento pela Paz e sempre firme contra o Front National, de extrema-direita. Em 1981, fez campanha pelo socialista François Mitterrand. Gilles Jacob editou as memórias de Piccoli e assina com ele o livro J’ai Vécu dans Mes Rêves (Vivi nos Meus Sonhos, em tradução livre). Piccoli dizia que conseguiu viver muito mais do que sonhou. Não poderia haver mais perfeito epitáfio para esse grande do cinema.
Discreto sobre sua vida privada, Piccoli, que se casou três vezes, confessou aos 90 anos em um livro de entrevistas com Gilles Jacob, seu amigo e ex-presidente do Festival de Cannes.
Ele foi indicado quatro vezes aos prêmios César do cinema francês, mas nunca foi recompensado.
No teatro, foi dirigido também por grandes nomes, como Peter Brook, Patrice Chéreau e Luc Bondy.
Gilles Jacob, então diretor-geral do festival, recebeu-o na entrada do Palais. Eram grandes amigos.
Foi Jacob quem anunciou a morte do grande Piccoli – segundo o jornal francês Libération, Jacob disse que “Michel Piccoli faleceu em 12 de maio, nos braços de sua mulher Ludvine e ao lado de seus filhos Inord e Missia, de consequências de um acidente vascular cerebral”. Ele estava com 94 anos.
(Fonte: https://br.yahoo.com/noticias – NOTÍCIAS / VIDA E ESTILO / Por AFP – 18/05/2020)
(Fonte: Zero Hora – ANO 56 – N° 19.714 – 19 DE MAIO de 2020 – TRIBUTO / MEMÓRIA – Pág: 26)