Batatinha, bamba baiano da sofrência, fez a tristeza do samba balançar com rara elegância
(Créditos da fotografia:
Reprodução / Batatinha na capa do álbum ‘Toalha da saudade’, de 1976)
Oscar da Penha (nasceu em 5 de agosto de 1924, em Salvador (BA) – faleceu em 3 de janeiro de 1997), poeta e compositor, foi imortalizado como Batatinha nas rodas da Bahia natal e nos pagodes mais antenados do Brasil.
Se o samba é a tristeza que balança, como sentenciou Vinicius de Moraes (1913 – 1980) em verso do Samba da benção (1966), essa tristeza balançou com suprema elegância no samba de outro poeta, o compositor Oscar da Penha.
De origem pobre, Batatinha veio ao mundo em Salvador (BA) em 5 de agosto de 1924. Mestre no batuque da caixa de fósforos, mote da criação da obra do artista, o sambista de fina estampa extrapolou as rodas soteropolitanas quando Jamelão (1913 – 2008) gravou o samba Jajá da Gamboa, do qual o cantor de Mangueira consta como coautor, em single editado em 1960.
Cinco anos depois, a difusão foi maior quando a conterrânea Maria Bethânia apresentou o samba Diplomacia – obra-prima da parceria de Batatinha com J. Luna – ao público carioca no roteiro do teatralizado show Opinião em 1965. Só que tal expansão foi insuficiente para fazer de Batatinha um bamba com a merecida visibilidade nacional.
“Meu desespero ninguém vê / Sou diplomado em matéria de sofrer”, cantava Bethânia, dando voz a versos que expunha a sofrência depurada no cancioneiro de Batatinha.
Reputado como moço de fino trato, Batatinha fazia samba triste, tendo legado joias como Hora da razão (Batatinha e J. Luna, 1971), Imitação (Batatinha, 1971) e Toalha da saudade (Batatinha e J. Luna, 1971). Música propagada por Maria Bethânia no show Rosa dos ventos (1971), em medley com Hora da razão e Imitação, Toalha da saudade batizou álbum lançado por Batatinha em 1976.
Em que pesem as expressivas contribuições de Bethânia para propagar a obra de Batatinha, o poeta baiano do samba permaneceu mais cultuado na Bahia, embora o cancioneiro do compositor tenha influenciado colegas de outros estados, a exemplo do torto sambista paulistano Romulo Fróes.
“100 anos hoje de um dos maiores gênios da música popular brasileira e um dos pilares da minha música. Viva Batatinha!!!!”, saudou Romulo hoje em rede social no dia do centenário do bamba, ajudando a quebrar silêncio ensurdecedor sobre a efeméride.
Com trajetória documentada no filme Batatinha – Poeta do samba (2009), o compositor construiu obra refinada que carrega lamento que também pode ser interpretado como um eco do soluçar de dor do povo afrodescendente na travessia transatlântica, ainda que a dor no samba de Batatinha seja exposta na esfera individual.
“Sofrer também é merecimento / Cada um tem seu momento / Quando a hora é da razão / Alguém vai sambar comigo / E o nome eu não digo / Guardo tudo no coração”, ressaltou o poeta em versos de Hora da razão, dando a pista da requintada introspecção que pautou a vida e a obra do artista.
“100 anos hoje (5 de agosto) de um dos maiores gênios da música popular brasileira e um dos pilares da minha música. Viva Batatinha!!!!”, saudou Romulo hoje em rede social no dia do centenário do bamba, ajudando a quebrar silêncio ensurdecedor sobre a efeméride.
(Créditos autorais: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2024/08/05 – POP & ARTE/ MÚSICA/ BLOG DO MAURO FERREIRA/ Por Mauro Ferreira – 05/08/2024)
Jornalista carioca que escreve sobre música desde 1987, com passagens em ‘O Globo’ e ‘Bizz’.
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