Nássara, autor de “Alá-Lá-Ô”
Um talento duplo
Flagrantes do traço conciso e impiedoso do cartunista, em ação desde os anos 30: Stalin, o escritor José Lins do Rego, Winston Churchill e Adolf Hitler e seus generais
Antônio Nássara: fazendo charges em forma de música, e vice-versa
Nássara (Rio de Janeiro, 11 de novembro de 1910 – Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 1996), compositor, autor de marchinhas como Alá-Lá-Ô e craque da caricatura. O caricaturista e compositor Antônio Gabriel Nássara era autor, junto com Haroldo Lobo, da marchinha de Carnaval “Alá-Lá-Ô”.
Um dos maiores caricaturistas do Brasil, Antônio Gabriel Nássara nasceu no bairro de São Cristóvão, Rio de Janeiro, no dia 11 de novembro de 1910.
Filho de libaneses, aos dois anos mudou-se para o bairro de Vila Isabel, na mesma rua onde morava o compositor Noel Rosa, com quem, mais tarde, faria parceria na música “Retiro da Saudade”.
Lá, fez amizade com grandes personagens da música e da boêmia da cidade, como Braguinha, Haroldo Barbosa e Orestes Barbosa, que se encontravam no Ponto de Cem Réis.
Em 1927, começou a trabalhar no jornal “O Globo”. No ano seguinte, entrou no curso de arquitetura da Escola Nacional de Belas-Artes (ENBA).
Com os colegas do curso, formou um conjunto musical chamado “Turma da ENBA”.
Em 1932, abandonou a escola, passando a trabalhar somente como caricaturista.
Produziu charges em vários jornais e revistas, como “Última Hora”, “A Crítica”, “Pasquim”, “O Cruzeiro”, “A Noite”, entre outros.
Também chegou a trabalhar, por seis meses, na rádio Philips, no “Programa do Casé”.
Entre uma caricatura e outra, compunha músicas. Seu primeiro sucesso foi a marcha “Formosa”, uma parceria com J. Rui, lançada no Carnaval de 1933 pela dupla Mário Reis e Francisco Alves.
“Periquitinho Verde”
Em 1939, sua música “Periquitinho Verde” tornou-se grande sucesso. “Meu periquitinho verde/Tire a sorte por favor/Eu quero resolver/Este caso de amor/Pois se eu não caso/Neste caso vou morrer”, dizia a canção.
“Florisbela”, música que fez junto com Frazão, chegou a ser gravada, no final da década de 30, por Sílvio Caldas.
Continuou atuando nos anos 40 e 50, quando sua produção começou a diminuir. Nos anos 70, passou a colaborar no semanário “Pasquim”.
Em 1985, seu trabalho foi tema do livro “Nássara Desenhista”, de Cássio Loredano, publicado pela Funarte.
O carioca Antônio Gabriel Nássara será sempre lembrado como o compositor de Alá-Lá-Ô, sucesso do Carnaval até hoje, e como o pai da moderna caricatura brasileira. O segredo de seu êxito, no papel e na música, estava na habilidade para misturar as duas coisas. Quando compunha melodias, fazia caricaturas em forma de música. E vice-versa. Durante a II Guerra Mundial, ficou famosa uma série de charges de Hitler, Stalin ou Churchill tocando samba e cantando músicas de Carnaval. Essa irreverência revolucionou a caricatura brasileira. Em pleno Estado Novo ele teve a coragem de ridicularizar os bacanas, lembra o cartunista Ziraldo. Foi sempre assim. Não escaparam de sua pena Geisel, Médici e até Fernando Collor.
Mas não foi só com coragem e humor que Nássara se tornou um mestre. Seu traço, uma mistura de cubismo com confete, era também inconfundível. “Seu desenho era tão econômico que transformava as pessoas em logotipos”, diz Jaguar, que nos anos 70 levou o cartunista, já aposentado, para trabalhar no semanário Pasquim, que naquele período estava tão na moda como o cinema novo. Nássara já passara pelos principais veículos da imprensa brasileira. Filho de libaneses, era também um malandro carioca no melhor sentido do termo. Nem Lamartine Babo levou vantagem com ele. Em 1934, ambos disputavam um concurso de músicas de Carnaval. A marcha de Nássara, Maria Rosa, fora desclassificada por uma acusação de plágio. Ao saber que o prêmio iria para Ride Palhaço, de Lamartine, Nássara usou do mesmo expediente, provando que aquele, sim, era um plágio descarado da ópera Pagliacci, de Leoncavallo. O concurso acabou sendo vencido por uma outra marcha, Tipo Sete, composta às pressas pelo próprio Nássara. Com a morte do cartunista dia 11 de dezembro, de infarto, aos 87 anos, o Rio de Janeiro perde um pouco de sua irreverência.
(Fonte: Veja, 18 de dezembro, 1996 – Edição 1475 - ANO 51 – N°29 Memória/ Por Celso Masson Pág; 137)
(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/12/12/ilustrada – ILUSTRADA / Por DA REPORTAGEM LOCAL; DA SUCURSAL DO RIO – São Paulo, 12 de dezembro de 1996)
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