Malinowski: aprendendo com os selvagens
Bronislaw Malinowski (Cracóvia, Polônia, 7 de abril de 1884 – Connecticut, 16 de maio de 1942), antropólogo polaco, autor de um clássico da literatura antropológica, “A Vida Sexual dos Selvagens“, foi o fundador da Antropologia Social
Ele rejeitou a especulação evolucionista e a manipulação do passado para fins do presente, pecados vulgares do seu tempo.
Sem dúvida, a principal contribuição de Malinowski à antropologia foi o desenvolvimento de um novo método de investigação de campo, cuja origem remonta à sua intensa experiência de pesquisa na Austrália, inicialmente com o povo Mailu (1915) e posteriormente com os nativos das Ilhas Trobriand (1915-16, 1917-18).
Em 1929, o antropólogo, publicou um livro que colocou as Ilhas Trobriand no mapa. As Ilhas Trobriand são parte do Arquipélago da Melanésia, no Oceano Pacífico. A Vida Sexual dos Selvagens constitui um dentre os brilhantes trabalhos sobre a vida dos trobriandeses em que Malinowski apresenta um nativo de carne e osso, cheio de vida. Malinowski mostra que a beleza e a sabedoria estão nas coisas simples, expressas de forma simples.
Para esse povo a sexualidade não se constitui como uma esfera particular da organização da vida social. A sexualidade é a essência da própria vida, a natureza da energia que nos constitui como seres humanos e, asssim, permeia indissoluvelmente todos os momentos da vida social. A sexualidade não aparece apenas na relação sexual em si e na aprendizagem das técnicas sexuais enquanto fato isolado. A sexualidade é eminentemente um prazer estético que permite reconhecer os elos entre os homens e a natureza e vivenciar a existência com alegria.
A vida trobriandesa e o relato que dela nos faz Malinowski têm uma outra marca: a da experiência vivida com naturalidade. Não se trata de uma naturalidade que brota espontaneamente. Trata-se de um outro universo cultural, de um outro modo de se situar no mundo e de refletir sobre o significado da existência. É nesse quadro que se situa a “naturalidade” da vida sexual: trata-se de um modo de encarar o sexo e organizar a vida através dele, que nada tem a ver com a visão pecaminosa e medrosa com que a nossa cultura nos tem levado a viver a sexualidade. Ironicamente, são os “selvagens” os que têm muito a nos ensinar.
A obra de Malinowski, um clássico da literatura antropológica, permite compreender a possibilidade de organização das relações com os sexos, sob o ponto de vista sexual, afetivo, familiar e econômico, em outras bases que não aquelas a que estamos acostumados. A Vida Sexual dos Selvagens é um precioso instrumento para a feflexão sobre as amarras dos nossos próprios preconceitos.
(Fonte: Veja, 20 de outubro de 1982 – Edição 737 – LIVROS/ Por CARMEN CINIRA MACEDO – Pág: 146)