Donald Davidson, teve um papel marcante na filosofia contemporânea

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Donald Herbert Davidson (Springfield, Massachusetts, 6 de março de 1917 – Berkeley, Califórnia, 30 de agosto de 2003), filósofo americano que na segunda metade do seculo XX teve um papel marcante na filosofia contemporânea.

Donald Herbert Davidson nasceu em seis de março de 1917 na cidade de Springfield, Massachusetts, nos Estados Unidos da América.

No ano em que nasceu, a Revolução Bolchevique anunciou na Rússia o “fim da era burguesa e suas liberdades individuais”. Em 2003, quando faleceu, o império soviético, o pesadelo gerado por um belo sonho, já não existia há mais de uma década. No entanto, o perigo de sonhar não havia terminado: os Estados Unidos ainda vivem diante de um paradoxo; alguns de seus governantes acreditam poder levar a democracia “à força” para outras terras. Tivemos a época da invasão do Afeganistão, do Iraque e da repetição de situações que pareciam que iriam desaparecer, uma vez terminada a Guerra Fria

Apesar de viver entre esses grandes acontecimentos políticos e de não ser avesso à compreensão de tais conflitos, Davidson não escreveu nenhum texto sobre filosofia política. No entanto, sua tentativa de descrever como agimos, pensamos e nos comunicamos é nuclear para aqueles que gostariam de ter uma visão filosófica quando da fixação de agendas sociais e políticas para o nosso tempo. Em âmbito mundial, o Oriente e o Ocidente ainda se entreolham com estranheza. Em cada país, minorias e maiorias fazem o mesmo. Vivemos o tempo onde cada vez mais os que são diferentes são requisitados a serem iguais e os que se tornam iguais são incentivados a agirem como diferentes – por vários tipos de comunicação. Davidson, em grande medida, descrevendo a ação, o pensamento e a linguagem, tornou-se um dos principais teóricos da comunicação humana, tomada a partir de um ponto de vista da filosofia contemporânea.

Davidson não escreveu sobre política, ele fez política, e de modo radical. Participou da política como guerra. Quando muitos intelectuais e filósofos chegaram aos Estados Unidos, fugindo do nazismo, Davidson fez o caminho inverso. Dirigiu-se para o Mediterrâneo, servindo como voluntário na Marinha durante a II Guerra Mundial. No combate ao nazismo, atuou como instrutor de equipes de reconhecimento de aviões inimigos. Participou de invasões e campanhas em terra. Entendeu tal tarefa como algo impossível de ser evitado. Não pertenceu ao Partido Comunista, mas como companheiro de homens de esquerda e tendo seus pais como pessoas de esquerda, Davidson seguiu a linha geral dos comunistas ao ver o combate contra o nazismo como um imperativo.

Os registros da vida acadêmica de Davidson não são poucos, e eles guardam datas e pessoas importantes. Teve como professores em Harvard as figuras de Alfred North Whitehead (1861-1947) e Willard Van Orman Quine (1908-2000). Este último, em vários livros de comentadores, aparece como um mestre de quem Davidson se fez discípulo. Mas isso é, em parte, um erro. Davidson foi mais um poderoso interlocutor de Quine que um discípulo.

Os interesses iniciais de Davidson por literatura e estudos clássicos não foram pequenos. Assim, sua carreira filosófica, ainda que pautada por artigos técnicos, elegantes, sempre demonstrou grande erudição. Voltando da Guerra, para Harvard, ele recebeu seu Ph.D. com uma dissertação com o significativo título de “Plato’s Philebus”, em 1949. Ele tinha, então, trinta e dois anos. Quatorze anos depois, apresentou o artigo que o tornou membro da galeria dos filósofos imortais, os que alcançam o estrelato a partir de um ponto de vista original, aquele que permite uma alteração dos rumos da filosofia. Isso se deu com o seu artigo “Actions, Reasons, and Causes”, de 1963. A partir desse texto, Davidson foi se tornando, ao longo de mais de quatro décadas de trabalho no ensino, a referência obrigatória em teoria da ação, filosofia da psicologia, epistemologia, semântica, estudos da verdade no âmbito da lógica e da metafísica, estudos sobre auto-engano e racionalidade. Na maioria de seus textos, vemos a presença de um eco dos principais temas clássicos da filosofia, que somente um genial estudioso de Platão poderia tratar da maneira que ele tratou.

Como professor no Queens College, em New York, atuou a partir de 1947. Deixou o essa instituição quando ela caiu sob administração católica, que se indispôs com estudantes e professores de esquerda. Davidson ensinou na Stanford University entre 1951 e 1967. Entre 1967 e 1981 passou por Princeton, Rockefeller e Chicago. Nos anos setenta tornou-se o presidente da “Eastern Division of the American Philosophical Society”. Sua carreira incluiu participação como professor visitante em várias universidades fora dos Estados Unidos.

Philosophy of Donald Davidson (Foto: Snapdeal/Divulgação)

Philosophy of Donald Davidson (Foto: Snapdeal/Divulgação)

 

Apesar de ter trabalhado em áreas tão diversas como filosofia da mente e psicologia, ética, epistemologia, semântica e teorias da verdade, o seu legado filosófico é considerado particularmente sistemático e exibe um todo coerente raro. Foi especialmente influente na filosofia da mente e da ação.

Duas das teses que defendeu e que marcaram toda uma geração de filósofos são o anomalismo do mental, e a ideia de que uma explicação da ação que apele a crenças e desejos é uma forma de explicação causal.

O anomalismo do mental consiste essencialmente na tese de que o domínio do mental não é regido por leis estritas, leis sem excepções. Isto é, de que não há leis psicofísicas nem psicológicas estritas. Assim Davidson pensa que a psicologia não é uma ciência, seguindo o modelo da física (Davidson afirma que a psicologia é mais como a filosofia de que como a ciência), nem é redutível à física, pois a inexistência de leis psicofísicas impossibilita a existência de leis-ponte, vista por muitos filósofos como uma condição necessária para a redução do mental ao físico.

O argumento oferecido por Davidson para sustentar o anomalismo do mental é complicado e difícil, no entanto podemos dizer duas palavras para dar uma ideia do que se trata. Davidson pensa que a racionalidade e a normatividade são elementos constitutivos do mental. Isto é, são parte integrante da identidade do mental, não podendo haver estados mentais sem que os conceitos de racionalidade e normatividade se apliquem. A normatividade do mental implica certos princípios que nos dizem como as coisas devem ser. Como por exemplo, se o Pedro acredita que há ovnis e vida noutras galáxias, então deveria acreditar que há ovnis, e se o José tem boas razões para acreditar em ovnis então deveria (injunção racional) acreditar em ovnis. Contudo estes conceitos não são parte integrante da identidade do físico.

Podemos ver assim a razão do anomalismo do mental: Para Davidson, a existência de leis psicofísicas significaria um estreitamento demasiado forte do mental e do físico, correndo-se o risco de perderem a sua identidade fundamentalmente diferente; que a normatividade do mental se impusesse no mundo físico, ou que o físico levasse ao esbatimento da normatividade do mental.

Para Davidson as razões, i.e., crenças e desejos, são causas. Quando o Pedro bebe um copo de água, o seu desejo por água não só justifica e ilumina o seu comportamento como também causa a sua ação. De acordo com Davidson, a existência de uma relação causal entre razões e ações é a única forma de encontrar a razão que não só justifica a ação, mas também que a explica. Este problema é claro no caso de existirem mais do que uma razão que justifique uma ação mas em que apenas uma levou de facto à ação.

Imaginemos que o Pedro para além de ter sede, precisa de tomar um comprimido. O facto de precisar de tomar o comprimido justificaria a ação de beber o copo de água. Assim ambas as razões justificam a ação, mas qual delas explica a ação? Isto é, qual delas leva de facto à ação? Davidson pensa que só há uma resposta satisfatória a esta pergunta, que só há um modo de explicar a ação e que para tal é preciso recorrer à ideia de causalidade. A ação é explicada pela razão que a causou, neste caso, o desejo por água.

Estas ideias são defendidas nos artigos seminais “Mental Events” (1970) e “Actions, Reasons, and Causes”(1963) ambos no livro “Essays on Actions and Events” (Oxford: Clarendon Press, 2001).

Estava como “Willis S. and Marion Slusser Professor Emeritus of Philosophy” na University of California, em Berkeley, quando decidiu por se submeter a uma simples operação no joelho.

Donald Davidson faleceu em Berkeley, Califórnia, em 30 de agosto de 2003, aos 86 anos. Faleceu após um ataque cardíaco quando daquela operação aparentemente sem risco.

(Fonte: http://mentecerebrociencia.blogspot.com.br/2008/09 – Mente, Cérebro e CiênciaPor Miguel Amen – 30 DE SETEMBRO DE 2008)

(Fonte: https://ghiraldelli.files.wordpress.com/2008/07 – Para Compreender a Filosofia de Donald Davidson/ Por Paulo Ghiraldelli Jr – São Paulo – 2007)

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