Edgar Hilsenrath, escritor iconoclasta alemão, autor entre outros, do livro iconoclasta “O Nazista e o Barbeiro: uma História de Vingança”

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Escritor iconoclasta alemão

 

 

 

Nascido em abril de 1926 em Leipzig, na Alemanha, em uma família de comerciantes judeus, Edgar Hilsenrath sobreviveu ao nazismo se exilando com seus pais em julho de 1938 em um gueto na Romênia, onde seus avós moravam. Deportado em 1941 para outro gueto, este na Ucrânia, o Exército Vermelho o salvou em 1944.

 

 

Hilsenrath passou uma infância tranquila em Halle, onde seu pai era um bem-sucedido negociante de móveis que via a chegada de Hitler no poder como uma patologia passageira. Em 1938, no entanto, pouco antes de estourar a guerra, sentindo na própria pele a mão pesada dos camisas-marrons, tratou de pensar em alternativas para sair da Alemanha. Depois de ter um pedido de visto para os EUA recusado pelo cônsul americano, enviou sua esposa e filhos para Sereth, na Romênia, uma das pequenas cidades que se formaram em torno de Cernovitz, no século XIX, quando judeus buscavam nesta região da Ucrânia, Bessarábia e Bukovina a paz que eles não encontravam na Rússia.

 

Foi ali naquela cidade cheia de judeus, ucranianos, húngaros, rutenos e alemães – uma espécie de protótipo de uma Europa unida – onde se falava o hochdeutsch (alto alemão), o alemão não “contaminado” pelos dialetos locais, que Hilsenrath passou os melhores anos de sua vida. Seus avós contrataram um professor particular para ensiná-lo a ler e a escrever. Ali, naquela cidade, que mais tarde ele reconheceria como sendo o que há de mais próximo da sua ideia de pátria, que ele leu os grandes autores da língua alemã e se apaixonou pelo idioma. Mas em 1941 os alemães chegaram e Hilsenrath, sua mãe e irmão foram colocados num vagão de gado, e levados, durante seis semanas seguidas, sem destino, para várias regiões da Bessarábia, até que finalmente fossem alojados em Moguilev-Podolski, uma cidade ucraniana que havia sido bombardeada, e em cujas ruínas fora delimitado o gueto para os judeus.

 

Quando os russos libertaram o local, em 1944, só cinco mil dos 30 mil judeus que ali viveram haviam conseguido sobreviver. Hilsenrath foi um deles. Sozinho, emigrou para a Palestina e perdeu completamente a capacidade de se comunicar. Quando soube que sua mãe e irmão haviam encontrado o pai na França, juntou-se a eles. E em 1955, toda a família emigrou para os EUA, onde Hilsenrath viveu durante 24 anos trabalhando como carregador, porteiro, garçom e faxineiro, atividades que lhe garantiram o mínimo para que conseguisse sobreviver e – o mais importante para ele – escrever nas madrugadas livres. Foi escrevendo que ele recuperou seu idioma, sua virilidade e sua capacidade de falar.

 

Na década de 1970 decidiu voltar para a Alemanha (“sem ter esquecido nada e tentando não pensar nos seis milhões”, como ele gosta de dizer) com vários livros inéditos na bagagem. Não sentia nenhum vínculo com o país. Mas precisava do idioma.

 

Suas histórias desesperadas, pungentes, proféticas, absurdas e sobretudo bem-humoradas, são tão impiedosas com os alemães e com os judeus que, até 1977, seus livros não haviam sido editados na Alemanha. Faltava coragem aos editores.

 

No final da guerra, voltou à Romênia, de onde foi para o Território Palestino. Posteriormente voltou à Europa, antes de se instalar nos Estados Unidos em 1951, onde viveu 25 anos, mas sem se adaptar.

 

Ganhava a vida com pequenos trabalhos e começou a escrever, em alemão, o fruto de suas experiências.

 

Em 1964 publicou “Night: A novel”, seu primeiro romance. Mas seu editor alemão, preocupado com a causticidade de sua caneta e o humor satírico que já caracterizava sua obra, preferiu sabotar a publicação do livro. Traduzido para o inglês, apareceu nos Estados Unidos em 1966 e se tornou um best-seller, vendendo cerca de 500.000 cópias.

Mas Edgar Hilsenrath, que voltou em 1957 à Alemanha, era um autor indesejável em seu país.

 

Às vezes considerado uma obra-prima, “O nazista e o barbeiro”, um livro que fala do Holocausto em um estilo satírico e burlesco, foi publicado com sucesso nos Estados Unidos em 1971 e na Alemanha em 1977. “Night” voltou a ser publicado na Alemanha em 1978.

 

Autores como Heinrich Böll e Günther Grass celebraram a obra de Edgar Hilsenrath.

 

Em 1989 recebeu a recompensa literária alemã mais prestigiada: o prêmio Alfred Döblin por seu livro “The Story of the Last Thought”, no qual compara o genocídio armênio ao Holocausto.

 

Também são suas obras “Orgasm in Moscow” (1979) e “Fuck America” (1980)

 

Hoje, aos 86 anos, vivendo em Berlim, ele começa a ser descoberto pelo mundo. Para ele, no entanto, nada é novidade. Aos 26 anos, no seu livro “Fuck Amerika”, Max Brod, o melhor amigo de Kafka, liga para a mãe do personagem principal do romance e alter ego de Hilsenrath e diz: “Li os manuscritos. Seu filho é um gênio. Um segundo Kafka”. Simplesmente profético.

 

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