A trajetória de Maria Clementina, 1ª delegada negra da Polícia Civil de SP
Ela era ativista pelos direitos dos negros.
Maria Clementina de Souza participaria em 12 de agosto de uma palestra sobre o racismo no mundo jurídico, mas, devido a complicações de saúde, não conseguiu comparecer ao evento. Ela foi a primeira delegada negra da Polícia Civil de SP e auxiliou no processo de criação da primeira Delegacia da Defesa da Mulher.
Primeira delegada negra da história da Polícia Civil de São Paulo, ela era conhecida por lutar pelos direitos dos negros.
Clementina ingressou na Polícia Civil de SP em 1976, como escriturária. Seis anos depois, passou em um concurso e se tornou delegada. Atuou na profissão por mais de 40 anos, em cidades com São Paulo, São Bernardo do Campo, Campinas, Mauá e Guarulhos. No final de 2019 se aposentou, sem deixar de lado a luta pela igualdade racial. Em março de 2019, recebeu da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo a medalha Ruth Cardoso, como reconhecimento ao trabalho no combate à violência contra a mulher.
43 anos na polícia
De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Civil, Maria começou a trabalhar na instituição em 1976, quando foi escriturária. Foram 43 anos na polícia.
Dois anos depois, se tornou operadora de telecomunicações. E após se formar na faculdade de direito, passou no concurso para delegada em 1982.
Em 1985, ela foi delegada-assistente na 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) do estado, na Sé, Centro da capital. Atualmente, essa delegacia mudou de endereço e funciona no Cambuci.
No tempo que trabalhou na Polícia Civil, Maria atuou também em delegacias nas cidades de Campinas, São Bernardo do Campo, Mauá e Guarulhos. Foi titular de algumas, como de outra DDM, anos mais tarde, da Delegacia do Idoso e também comandou alguns distritos policiais.
Ativista
Em 2008 ela viajou para os Estados Unidos a convite do governo americano para “participar do programa profissional a ser desenvolvido em várias localidades americanas, sobre a participação de afrodescendentes e de outros minorias no processo político dos EUA”.
Em 2018, Maria teve que amputar a perna esquerda por causa de um problema circulatório. Segundo a Polícia Civil, ela se aposentou em novembro de 2019.
Atuante nas questões sobre a participação do negro na sociedade, ela gostava de comentar diversos assuntos nas suas redes sociais.
Luana, a sobrinha de Maria, lembra que a última live da tia foi na quarta-feira (12), quando ela publicou um vídeo para falar do caso de uma juíza do Paraná que escreveu na sua sentença que “em razão da raça”, um negro era criminoso.
“Ela falava sobre o preconceito no mundo jurídico, citando essa decisão da juíza de Curitiba”, conta Luana. “Era uma ativista pelos direitos dos negros”.
Sua trajetória, no entanto, ficou marcada. Mylene Ramos Seidl e juíza do trabalho aposentada, define a amiga como uma pessoa “firme, doce e incansável”. “Semanalmente após o expediente atendia eventos de combate ao racismo. Era querida por todos”, relembra.
Sua luta inspirou outras pessoas na busca pela igualdade. “Quando à noite, cansada, eu pensava: se ela consegue, eu tenho o dever de dar o meu melhor também”, resume Mylene.
Maria Clementina faleceu em 14 de agosto de 2020, aos 64 anos, devido a uma trombose.
Após o seu falecimento, Maria Clementina recebeu homenagens do Conselho Estadual da Condição Feminina, da Polícia Civil de SP e também do governador do estado, João Dória, que reconheceu sua importância como ativista na luta pelos direitos dos negros.
“Ela foi um exemplo para a família. Ela era ativista, era do conselho da comunidade negra, era atuante na OAB [Ordem dos Advogados do Brasil]. Ela tinha uma importância sumária”, diz à reportagem a escrivã Luana Alexandrina de Souza Nery, de 37 anos, sobrinha de Maria.
(Fonte: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/08/15 – UNIVERSA / NOTÍCIAS / MULHERES INSPIRADORAS / De Universa – 15/08/2020)
(Fonte: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/08/14 – SÃO PAULO / Por Kleber Tomaz, G1 SP — São Paulo – 14/08/2020)