José Alencar (1931 – 2011), empresário e político brasileiro, ex-vice-presidente da República

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José Alencar (Muriaé (MG), 17 de outubro de 1931 – São Paulo, 29 de março de 2011), empresário e político brasileiro, ex-vice-presidente da República

Peça fundamental da aliança que elegeu Lula em 2002, José Alencar Gomes da Silva, foi uma das poucas vozes do governo a pedir a redução dos juros durante o primeiro mandato do presidente Lula. Nascido em Muriaé, Minas Gerais, em 17 de outubro de 1931, além de político, foi também empresário do setor têxtil. Antes de tornar-se vice-presidente, em 2003, foi senador por Minas Gerais.

Alencar começou sua vida política como presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, presidente da FIEMG (SESI, SENAI, IEL, CASFAM) e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria. Em 1994, Alencar candidatou-se às eleições para o Governo de Minas e disputou, em 1998, uma vaga no Senado Federal, elegendo-se com quase três milhões de votos.

Em 1967, fundou, em Montes Claros, a Companhia de Tecidos Norte de Minas, Coteminas. Atualmente, são onze unidades que fabricam e distribuem os produtos para o mercado interno, para os Estados Unidos, Europa e Mercosul.

Em 2003, elegeu-se vice na chapa do candidato do PT. Com a reeleição de Lula, Alencar continuou no o cargo de vice-presidente até o dia de sua morte.No começo de seu mandato, era voz dissonante da política econômica do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci.

Alencar defendia uma interferência política nas decisões econômicas do governo, principalmente em relação aos até então elevados juros praticados pelo banco central. Já o ex-ministro da Fazenda dizia que não deveria haver critérios políticos para as decisões do Banco Central.

Em 2008, Alencar chegou a dizer em entrevista que as elevadas taxas de juros impediam o governo de fazer um efetivo corte de gastos públicos. Segundo ele, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria mais musculatura para enfrentar a turbulência global e poderia ter economizado cerca de R$ 300 bilhões se nos primeiros quatro anos não tivesse adotado uma política monetária “equivocada”.

Em 2004, acumulou a vice-presidência com o cargo de ministro da Defesa, onde ficou até 2006 a pedido do presidente.

Saúde. Alencar começou sua luta contra o câncer em 1997. Passou por 15 cirurgias para combater a doença, que já teve na próstata e depois no abdômen.

Só em 2009, o então vice-presidente do Brasil operou três vezes. Em janeiro, retirou um tumor de aproximadamente 10 centímetros das costas e mais dez tumores menores localizados em volta de seu abdômen, numa operação que durou 17 horas.
No mês de julho do mesmo ano, Alencar passou por duas cirurgias. A primeira no dia 9 daquele mês, quando o vice-presidente foi submetido a um procedimento no qual foram retirados tumores para a desobstrução de seu intestino, e no dia 24, quando Alencar passou por uma colostomia, operação na qual se faz uma abertura no abdômen para a drenagem das fezes.

Também em 2009, Alencar participou de um tratamento experimental contra o câncer no centro MD Anderson, em Houston, nos Estados Unidos. O tratamento não trouxe resultados efetivos, o que fez a equipe médica do vice-presidente optar pelas opções tradicionais para o combate ao câncer.

Alencar passou de “patrão” a vice bem-humorado

Nascido no Distrito de Itamuri, em Muriaé, na Zona da Mata de Minas Gerais, em 17 de outubro de 1931, o empresário José Alencar ficou conhecido nacionalmente na eleição presidencial de 2002, quando o PT o apresentou como candidato na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Alencar faleceu no início desta tarde, em São Paulo, segundo confirmou o oncologista Paulo Hoff, do Hospital Sírio-Libanês.

Rico e bem-humorado, o “patrão” que avalizava a candidatura do ex-líder sindical doou, oficialmente, R$ 3 milhões para a campanha, deixou as empresas definitivamente sob a chefia do filho Josué Gomes da Silva e percorreu cidades e grotões ao lado de Lula, compartilhando gritos e palmas de multidões, nos comícios animados pela dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano.

O gosto musical de Alencar sempre foi outro. Na primeira viagem do ex-presidente ao exterior, em janeiro de 2003, o ex-vice-presidente assumiu a interinidade com estilo, abrindo o Salão Leste do Palácio do Planalto para festejar o ídolo, o compositor Ary Barroso. Cantou trechos de “Aquarela do Brasil”. Também gostava das músicas do “cantor das multidões”, Orlando Silva, e do sambista Noel Rosa.

O homem que iniciou a carreira política só aos 63 anos, quando concorreu sem sucesso ao governo do Estado, nunca precisou esperar uma viagem de Lula para assegurar espaço na imprensa. Com discursos que expressam as opiniões da classe empresarial, Alencar fez do cargo uma função de destaque na mídia em plena Era Lula, uma época marcada pela grande exposição da figura do presidente, com discursos carregados de metáforas facilmente compreendidas pela população.

Ao assumir o poder, em 2003, Lula decorou o gabinete do terceiro andar do Planalto com uma cadeira vermelha ortopédica. Fotos do “trono vermelho” foram divulgadas com estardalhaço por jornais e revistas. “O Lula comprou uma igual para mim”, disse o ex-vice-presidente, rindo, numa das primeiras entrevistas na função a uma equipe da “Agência Estado”, naquele ano, apontando para o assento com humor, no escritório no prédio anexo do Palácio.

Em 2 de janeiro, a sala do vice era uma das poucas com as luzes acesas na área central de Brasília, que abrange a Praça dos Três Poderes e Esplanada dos Ministérios. Enquanto boa parte das autoridades prolongava a folga de ano-novo, Alencar despachava com assessores. Naquele dia, recebeu, novamente, a Agência Estado para falar das expectativas do ano que começava. Falou sobre o tratamento do câncer.

A figura de um empresário bem-sucedido, senador de primeiro mandato pelo PMDB de Minas Gerais e de origem pobre, encaixou-se em 2002 ao projeto do PT de dar um vice a Lula que agregasse votos e transmitisse segurança a setores financeiro e econômico. Em fevereiro de 2001, depois de entrevista com o então senador José Alencar para a revista petista “Teoria e Debate”, a jornalista Myrian Luiz Alves telefonou para o presidente. “Se você procura um vice, já achou.” Lula riu e pediu a gravação bruta da conversa.

Nessa entrevista à revista, Alencar, também cortejado pelos tucanos, que queriam fazer dele ministro ou qualquer outra coisa que o afastasse do PT, mandou um recado claro para o presidente de que estava aberto ao diálogo. Alencar defendeu alternância de poder como caminho para acabar com a corrupção.

Disse que era preciso “acabar com a impunidade, como o roubo, porque, de outra forma, os meios para acabar com isso poderão ser não democráticos”. Era tudo o que Lula queria ouvir.

O senador já pedia, na reportagem, a redução da taxa Selic, que se tornaria a principal bandeira política dele durante os seis anos de governo. As reclamações ganharam força em fevereiro de 2003, quando o juro chegou a 26,5%, o ápice no mandato de Lula.

Nos dois primeiros anos de gestão, as entrevistas e discursos de Alencar contra os juros elevados incomodavam o Poder Executivo – que à época não enfrentava denúncias de corrupção e Lula ainda demonstrava receios e insegurança diante de qualquer informação sobre a política econômica.

A interlocutores, o vice reclamou que a escolha do então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, um ex-banqueiro internacional que se elegeu deputado pelo PSDB de Goiás em 2002, nunca foi tratada nas conversas que o aproximaram do presidente.

Em 2003, o então influente ministro da Fazenda Antonio Palocci foi ao gabinete de Alencar, no edifício anexo do palácio, para explicar decisões do Copom de manter a Selic em taxas consideradas “abusivas” por Alencar e demonstrar que a postura dele não significava uma crise política.

Um batalhão de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas estava no escritório, convidados com antecedência pelo vice, para ouvir as explicações. O lema da taxa de juros deu um destaque que o cargo de vice-presidente não tinha, especialmente depois de oito anos em que o pernambucano Marco Maciel, hoje no DEM, avesso a entrevistas, ocupou o Palácio do Jaburu, residência oficial, durante a administração Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Alencar, que em conversas íntimas, reclamava da postura de Lula de neutralizá-lo e afastá-lo de grandes decisões, conquistou um espaço próprio na mídia, sem vínculo com ações do conjunto do Executivo e a imagem do presidente.

Fábrica

Foi na festa de 50 anos de vida empresarial, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, em 2000, que o então senador José Alencar conheceu o “terno” candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em fevereiro de 2001, mais pragmático que nas três eleições anteriores, Lula decidiu que valia a pena lançar o “patrão” como vice ao visitar fábricas da Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), de propriedade de Alencar, em Montes Claros, no norte de Minas, e Natal.

A empresa foi fundada por Alencar em 1967 na região do Estado beneficiada pelos incentivos fiscais da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e empregava, durante a visita de Lula, 16 mil trabalhadores em 12 unidades, uma delas na Argentina. Durante as visitas, o então candidato pôde perceber também que Alencar fazia questão de preservar costumes simples do interior mineiro.

Enquanto comiam linguiça com arroz, citaram “causos” e falaram das linhas de produção.
Pessoas próximas de Lula costumam dizer que o ex-presidente sempre enxergou em Alencar um outro Lula. A trajetória de alguém que venceu os obstáculos com integridade foi outro fator que definiu a escolha do mineiro para ocupar o posto de vice. Décimo primeiro dos 15 filhos de um casal humilde do interior de Minas, Alencar saiu de casa aos 14 anos para trabalhar como balconista.

Nos poucos discursos sobre a vida pessoal, ele contou ter dormido em praça pública e criado aos 18 anos “A Queimadeira”, uma lojinha de armarinhos e sombrinhas. Diferentemente de Lula, Alencar nunca usou o discurso do menino pobre. Autodidata, não fez curso superior. Já empresário de sucesso, viajou para Londres, onde cursou por um mês um curso de inglês. “Falo inglês para não passar fome no exterior”, dizia.
(Fonte: www.estadao.br.msn.com – Em São Paulo – 29/03/11)

Relembre momentos históricos da vida de José Alencar. Ex-vice-presidente uma grande jornada política e pessoal

Biografia

Filho de um pequeno comerciante de um vilarejo mineiro, José Alencar Gomes da Silva começou a trabalhar cedo e deixou a família quando tinha 14 anos para empregar-se numa loja na sede do município de Muriaé (MG).

Em 1947, atrás de um emprego melhor, mudou-se para Caratinga, cidade em que conheceu Mariza, com quem se casou. Aos 18 anos, foi emancipado pelo pai (na época, a maioridade civil ocorria aos 21 anos) e, com apoio financeiro de um irmão, abriu uma loja na cidade.

Hoje, a Coteminas S.A., controlada pela família de Alencar, é a maior empresa do setor têxtil do país e um dos mais importantes grupos econômicos do Brasil.

Alencar causou surpresa, à esquerda e à direita, ao aceitar a posição de vice na vitoriosa chapa de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, na campanha de 2002. Quatros anos depois, foi reeleito vice-presidente.

Alencar era casado com Mariza Campos Gomes da Silva, pai de três filhos – Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia – (em 2001 ele passou a responder a um processo de reconhecimento de paternidade ajuizado por Rosemary de Moraes).

Em julho de 2010, um juiz da comarca de Caratinga (MG), declarou José Alencar oficialmente pai de Rosemary de Morais, que passou a assinar Gomes da Silva. A sentença faz parte de uma ação de reconhecimento de paternidade ajuizada em 2001.

Linha do tempo:

Cronologia

1931 – Filho de Antônio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da Silva, nasce no povoado de Itamuri, em Muriaé (Zona da Mata de Minas Gerais, 364 km de Belo Horizonte), José Alencar Gomes da Silva, 11° filho do casal. Ao todo, Antônio e Dolores teriam 15 filhos.

1938 – Aos 7 anos, começa a freqüentar o balcão do pai.

1946 – Deixa o povoado de Itamuri para trabalhar como balconista numa loja de tecidos de Muriaé (MG).

1948 – Muda-se de Muriaé (MG) para Caratinga (região do Vale do Rio Doce, 311 km de Belo Horizonte), para trabalhar na Casa Bonfim.

1950 – Com a ajuda do irmão Geraldo Gomes da Silva, que lhe empresta 15 mil cruzeiros, abre sua primeira emmpresa, uma loja chamada A Queimadeira, em Caratinga, para vender tecidos, chapéus, calçados e guarda-chuvas, entre outros itens.

1967 – Em parceria com o empresário e deputado Luiz de Paula Ferreira, funda em Montes Claros a Companhia de Tecidos Norte de Minas – Coteminas, o maior grupo têxtil do país.

1989 – Assume a presidência da Federação das Indústrias de Minas Gerais, a Fiemg. Comanda a entidade por dois mandatos.

1994 – Deixa a Fiemg para disputar o governo de Minas Gerais pelo PMDB. Fica atrás de Hélio Costa (então PP) e Eduardo Azeredo (PSDB). O tucano é eleito no segundo turno.

1998 – Elege-se senador pelo PMDB, com quase 3 milhões de votos.

2002- Então filiado ao PL, aceita compor com Lula a chapa que disputa e vence as eleições presidenciais. A dupla vence José Serra (PSDB) – Rita Camata (PMDB).

2004 – Assume o Ministério da Defesa, após atritos entre o então chefe da pasta, o embaixador José Viegas, e comandantes militares.

2005 – Igreja Universal, aliada do católico José Alencar, funda o PMR, atual PRB. Alencar acompanha os líderes do PL ligados ao bispo Edir Macedo e entra para o novo partido.

2006 – Deixa o Ministério da Defesa. Com Lula, disputa a reeleição. No segundo turno, a dupla vence a chapa Geraldo Alckmin (PSDB) – José Jorge (PFL)

2007 – Numa das inúmeras críticas que fez à política de juros do Banco Central, Alencar, na condição de presidente interino, durante viagem de Lula, afirma que o país “joga dinheiro pela janela”

2008 – Desde o começo do ano, enfrenta problemas de saúde, mas não deixa de participar do governo e da vida política. Faz campanha para o colega de partido e bispo da Universal Marcelo Crivella (PRB) na disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro.

2010 – Após cogitar concorrer ao Senado, Alencar voltou atrás dizendo que, por estar em tratamento de quimioterapia contra o câncer, não teria condições físicas de encarar uma campanha.

2011 – Por conta de seu estado de saúde fragilizado, os médicos de Alencar o proibiram de participar da cerimônia de posse de Dilma Rousseff, em 1° de janeiro. “Só não fui porque não me deixaram ir”, disse o ex0vice-presidente em entrevista concedida no hospital Sírio-Libanês.

(Fonte: www.noticias.uol.com.br – Do UOL Notícias – Em São Paulo – 29/03/11)

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