Kevin Carter, fotógrafo premiado com o prêmio Pulitzer, o mais importante do jornalismo americano

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Carter: foto premiada e depressão, seguida de suicídio pelos horrores da fome

Kevin Carter ganhou um Prêmio Pulitzer por uma fotografia de sua autoria que retrata a fome no Sudão em 1993.

Kevin Carter ganhou um Prêmio Pulitzer por uma fotografia de sua autoria que retrata a fome no Sudão em 1993.

Kevin Carter (Johannesburgo, 13 de setembro de 1960 – Johannesburgo, 27 de julho 1994), fotógrafo sul-africano que em 1993 fez a foto que o consagrou, uma imagem contundente da fome no Sudão. Nela, um abutre observa uma criança faminta.

A foto lhe rendeu neste ano o prêmio Pulitzer, o mais importante do jornalismo americano. Carter estava deprimido com a violência da realidade que retratava e também com o assassinato de um amigo dias antes de ser anunciada a sua premiação.

Segundo seu relato, depois de fazer a foto ele espantou o abutre e ficou observando a criança por horas a fio, “chorando e fumando”.

Kevin Carter faleceu em 27 de julho de 1994, aos 33 anos, de suicídio por inalação de monóxido de carbono, em Johannesburgo.

(Fonte: Veja, 10 de agosto de 1994 – ANO 27 – N° 32 – Edição 1352 – DATAS – Pág; 102)

Criança sobreviveu ao abutre, fotógrafo sucumbiu à dor

O fotógrafo sucumbiu ao arrependimento e suicidou-se. A opinião pública crucificou Kevin Carter, mas, 18 anos volvidos, sabe-se que a criança que parece prestar-se a servir de pasto ao abutre sobreviveu à fome e à guerra no Sudão.

Criança sobreviveu ao abutre, fotógrafo sucumbiu à dor

Kevin Carter disparou, em 1993, no Sudão, a foto que lhe viria a custar a vida, paradoxalmente, eternizando o fotógrafo sul-africano na galeria dos maiores repórteres fotográficos de sempre, com um “frame” icónico, um retrato de uma tragédia que não precisa de uma sílaba sequer.

Quando fotografou aquela cena, em Ayod, no Sudão, em 1993, Kevin Carter terá visto, como quase toda a gente, na imagem de um abutre postado atrás de uma criança desnutrida, a metáfora perfeita para a fome que grassava, e matava, no Sudão.

Disparou e pouco depois entrou no avião. O New York Times publicou a foto, que em 1994 viria a ganhar o prestigiado prêmio Pulitzer. Kevin Carter não suportou a glória de uma imagem que lhe recordaria a sua própria mortalidade, a sua própria face humana, que naquela tarde de 1993, no Sudão, se deixou dominar pelo brio profissional de capturar a imagem que melhor demonstrasse a tragédia que varria o Sudão. Conseguiu-o.

O Mundo viu, nessa foto, a morte e a fome, a morte pela fome. A opinião pública apressou-se a julgar e a condenar sumariamente a alegada frieza com que teria agido Kevin Carter, considerando que o fotógrafo poderia, e deveria, ter feito alguma coisa para salvar a criança. Kevin sentiu o mesmo e foi essa dor que o levou a pôr termo à própria vida, incapaz de suportar a ideia de não ter ajudado a salvar uma vida.

Crianças do Japão sentiram a mensagem da foto

No rescaldo do Pulitzer, nem todos se apressaram a condenar a postura do repórter perante a situação que o catapultou para a fama. No dia em que colocou termo à vida, chegavam à casa dos pais de Carter um maço de cartas escritas provenientes do Japão onde um grupo de crianças da escola de Arakawa Ward, em Tóquio, explicavam como a foto do abutre as havia tocado.

Alguns excertos das cartas acabariam por ser lidas no funeral de Kevin Carter: “se eu for apanhado numa situação difícil, vou lembrar-me da sua foto e tentar ultrapassar a situação”; “Até agora fui uma pessoa egoísta”; “Eu tiraria a foto com as mãos a tremer”, podia ler-se nas várias missivas.

A história seguinte de Carter é a de uma talvez infundada má consciência que o atirou para um consumo compulsivo de drogas, segundo o relato de dois amigos, Greg Marinovich e João Silva que, juntamente com o próprio Kevin e Ken Oosterbroek constituíram o famoso “Bang Bang Club”, um grupo de fotógrafos baseados em Joanesburgo que revelaram ao mundo a brutalidade do apartheid sul africano.

João Silva, o fotógrafo português radicado na África do Sul que, ao serviço do New York Times cobriu as principais guerras da ultima década tendo ficado gravemente ferido (perdeu as pernas) ao pisar uma mina no Afeganistão em Outubro do ano passado, foi o destinatário da carta deixada por Kevin aquando do suicídio. A carta, conta João, “era enraivecida”. Nela, explica, Kevin justificava o recurso às drogas como “recurso fácil para a dor que sentia”.

Afinal, sabe-se agora, não precisava de ajudar aquela criança, que estava a ser ajudada pela ONU. Conta o El Mundo, que a própria imagem ajuda a contar a história desconhecida, até agora, de Kong Nyong, a criança que escapou ao abutre e fintou a fome e a vida de Kevin Carter.

Na mão direita da criança vê-se uma pulseira de plástico da ajuda alimentar da ONU. Ampliando a foto, pode ver-se inscrita a sigla “T3”.

“Usavam-se duas letras: “T” para a malnutrição severa e “S” para os que só necessitavam de alimentação suplementar. O número indica a ordem de chegada ao centro alimentar”, contou Florence Mourin, que coordenava os trabalhos naquela campo improvisado de ajuda alimentar.

Feita explicação, a história, embora dura, parece mais linear: Kong Nyong sofria de malnutrição severa, foi o terceiro a chegar àquele centro e estava a receber ajuda. Sobreviveu à fome e evitou o abutre. Segundo o pai, morreu há quatro anos, em 2006, jovem adulto, vítima “de febres”, não de fome. Kevin Carter é que já não está cá para testemunhar esta descoberta dos repórteres do El Mundo.

(Fonte: http://www.jn.pt – JORNAL DE NOTÍCIAS – 21/02/2011)

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