O maior detetive do Brasil

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Bechara Jalkh, o maior detetive do Brasil revela os bastidores da roubalheira nacional e conta como escapou do último atentado a sua vida.
Qual o sinônimo para “detetive”? Sherlock Holmes, certo? E para “detetive brasileiro”? Resposta: Bechara Jalkh. Nunca houve nenhum como ele, e pelo jeito vai ser difícil existir outro. Num país onde crimes se resolviam pendurando suspeitos no pau-de-arara, Jalkh trouxe os princípios da investigação científica. As novas gerações provavelmente nunca ouviram falar dele. Mas Bechara foi uma estrela nos anos 50 e 60, quando nenhum crime que investigava para o jornal O Globo ficava sem solução. Com a fama, Bechara Jalkh criou uma rede nacional de especialistas e auxiliares e passou a comprar os mais sofisticados aparelhos de investigação e espionagem do mundo. Durante 32 anos manteve um curso para detetive por correspondência que formou 150000 alunos, muitos deles trabalhando até hoje com ele.
Agora Bechara Jalkh está longe dos holofotes. Mas segue trabalhando, e muito, na área empresarial. Afinal, nunca empresas brasileiras foram tão fraudadas, lesadas, extorquidas quanto agora. É um drama terrível e grave. Os detalhes você vai ler nesta entrevista, entre tantas histórias escabrosas de crimes e loucuras. O detetive número 1 do Brasil nasceu em Beirute, num tempo em que o Líbano era um oásis de civilização e cultura no Oriente Médio. Como sua mãe era brasileira, Bechara se instalou aos 17 anos no Rio de Janeiro, em 1949, e de lá nunca mais saiu. No Rio estão seus quatro filhos e quatro netos, um já casado. Recentemente sua vida conheceu um fato triste (a morte de sua esposa, de câncer) e outro alegre: seu filho mais novo, que profeticamente ganhou seu nome e agora tem 19 anos, resolveu seguir os passos do pai. Está aprendendo a arte de investigar com o melhor detetive do Brasil.
Bechara Jalkh tem muitas histórias para contar. Sua vida parece um seriado de TV, com tantos casos misteriosos e escabrosos. Depois de ver tanta sujeira, Bechara não perdeu a capacidade de se indignar – conseqüência de manter décadas de integridade pessoal e profissional num mundo que apodrece ao seu redor. Ele teve todas as chances e tentações para enriquecer encobrindo falcatruas, servindo a clientes menos escrupulosos. Disse não a tudo e hoje leva uma vida confortável – tem uma cobertura (“média”) na Barra e, motivo de seu maior orgulho, uma prole bem criada. Para ouvir suas histórias, Playboy enviou o editor sênior Dagomir Marquezi. Seu relato:
“Esta entrevista foi realizada em três sessões. A primeira num edifício abandonado, enquanto Bechara vigiava uma residência de traficantes dez andares abaixo. A segunda, a bordo de um helicóptero em perseguição a um fugitivo procurado em oito países (foi difícil entender o que ele dizia com o barulho do motor). A terceira sessão ocorreu no meio de um tiroteio na favela da Rocinha, onde meu gravador foi atingido de raspão por uma bala 22.
“Tudo mentira, claro. Essas coisas acontecem com detetives de ficção, todos eles desprezados por Bechara Jalkh. As três sessões de entrevista foram realizadas com toda calma no seu modesto escritório localizado bem no centro do Rio de Janeiro, de frente para o Mercado das Flores. O escritório da BJ Assessoria e Pesquisa está há 25 anos nesse edifício já decadente, cercado por um vasto camelódromo, difícil de chegar de carro por causa das ruas muito estreitas e sempre congestionadas. Bechara me recebeu sério, mas essa impressão se desfez na primeira pergunta, sobre sua idade: ‘Vou fazer 69. No bom sentido’.
“Basta ligar o gravador para que Bechara comece a falar e não pare mais. Ele tem uma curiosa mistura de linguagem típica da malandragem carioca com um ligeiro sotaque árabe. Fala direto, sem pausas nem muitas risadas. Sua voz só se altera quando conta histórias de injustiças cometidas contra inocentes. “No final das três sessões, ficou confirmada a imagem de herói que eu sempre tive de Bechara Jalkh desde o tempo em que era um adolescente querendo fazer seu curso por correspondência. Ficou também um gosto amargo de conhecer melhor a podridão nacional sob a lente de um detetive. “Nas três sessões ele vestia ternos diferentes, mas o prendedor de gravata era sempre o mesmo, uma minúscula esfera escura muito parecida com um… microfone em miniatura. Talvez Bechara Jalkh já tenha uma cópia desta gravação em seus arquivos.”

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