Primeira torcida organizada do Brasil

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Foi em 1942 que um grupo de flamenguistas resolveu levar instrumentos para os estádios a fim de estimular o timaço no qual se destacava Zizinho, o maior jogador do Brasil no seu tempo. As pessoas estranhavam aquilo. Ary Barroso chamou a bandinha improvisada de charanga. Era para ser uma ironia, mas os torcedores adoraram e passaram a se denominar A Charanga do Flamengo. Pintaram faixas com esse nome e, nos jogos, acomodavam-se debaixo delas. Estava criada a primeira torcida organizada do Brasil.
No Rio Grande do Sul, a primeira torcida organizada foi fundada por Vicente Rao, bancário, Rei Momo, líder do bloco carnavalesco Tira o Dedo do Pudim e coloradão profissional. Rao se inspirou na torcida do Flamengo, evidentemente. Fazia faixas e bandeiras, pedia que os torcedores fossem a campo uniformizados, picava papéis para a entrada do time em campo e chamava a torcida para se postar num mesmo setor, atrás da goleira. Nessa época, o Inter abrira-se para os negros e montam o Rolo Compressor. Tudo isso fez do Inter o clube mais popular do Rio Grande.
O Grêmio só foi reagir quando Salim Nigri liderou a primeira torcida organizada do clube. Em 1946, Salim pintou numa faixa a frase “com o Grêmio onde estiver o Grêmio”. Essa faixa era levada pelos torcedores aos estádios, e foi nela que Lupicínio se inspirou para compor o hino famoso.
O Inter continuou com uma torcida maior e mais animada até o meio dos anos 50, quando o Grêmio aboliu o preconceito racial e voltou a vencer. Aí sua torcida aumentou e tornou-se maior do que a do rival.
A teoria a respeito da relação entre tamanho de torcida e número de vitórias:um time vencedor conquista mais torcedores, mas são as derrotas que os fanatizam. A torcida do Corinthians, por exemplo, transformou-se em uma das maiores do Brasil nos 23 anos que o clube permaneceu sem títulos. Assim, os 12 anos em 13 que o Grêmio foi campeão forjaram muitos colorados obcecados. Nos anos 70, o contrário: o Inter armou um supertime e o Grêmio enchia os estádios de gente sôfrega e sonhadora.
A passagem do Grêmio pela segunda divisão incendiou sua torcida. E essa Geral do Grêmio mudou o jeito de se torcer no Rio Grande. Muitos assistem admirados para essa torcida que nunca abandona seu time e canta o tempo inteiro. A torcida do Inter, claro, a imitou. A Popular espelha-se na Geral, como Salim Nigri se espelhou em Vicente Rao nos anos 40.
Porque Grêmio e Inter são, de fato, a imagem um do outro. Nenhum gremista e nenhum colorado jamais irá admitir, porém, mais do que se odiar, eles se respeitam. E, no fundo mais recôndito da alma, lá naquele ventrículo esconso que nunca subirá para a superfície, acredite: eles se admiram.

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