“Dançarei apenas porque isso me possibilita expressar minha personalidade. Quero ser uma personalidade para cumprir minha missão. Minha missão é a missão de Deus. Minha loucura é o meu amor pela humanidade. Não quero a morte dos sentidos. Sou aquele que morre quando não é amado.” (Vaslav Nijinsky)
Genial personalidade e sua valiosíssima contribuição para a evolução da dança moderna
Vaslav Nijinsky (Kiev, 28 de dezembro de 1889 – Londres, 8 de abril de 1950), legendário artista, outro russo enigmático e genial que dominou os palcos do balé no início do século 20. Figura enigmática, de temperamento taciturno e introvertido, tornou-se um símbolo na mitologia da dança.
Em uma biografia do dançarino escrita por sua mulher, Romola Nijinsky, parece sobretudo preocupado em explorar ao máximo o aspecto escandaloso da relação homossexual entre Nijinsky e seu protetor, empresário e fundador dos Ballets Russes, companhia de bailado a partir da qual muitos famosos dançarinos e coreógrafos surgiram, Sergei Diaghilev (1872-1929).
Vaslav Nijinsky, famoso dançarino russo de ballet clássico, nasceu em 28 de dezembro de 1889, tornando-se o novo membro de uma família a qual já possuía grande prestígio e nome no mundo da dança. Desde cedo, frequentou as mais famosas escolas de dança russas, tornando-se um brilhante bailarino, sendo destaque por suas atuações singulares, as quais eram marcadas por seus saltos leves – “saltos felinos”, como alguns costumam denominar-, precisos os quais eram adicionados a sua personalidade carismática, resultando, assim, no encantamento dos críticos e espectadores.
Nijinsky recebeu grandes nomeações, sendo considerado um revolucionário do balé do início do século XX, pois suas técnicas coreográficas e os seus inéditos conceitos de expressão corporal desenvolvidos, rompiam violentamente com as características fundamentais do balé tradicional. Anos mais tarde, passou da posição de bailarino à de coreógrafo – papel executado também com muita paixão. Possuiu um relacionamento com o empresário artístico russo, Serguei Diaghilev, sendo levado ao rompimento, devido ao fato de Nijinsky ter se apaixonado por Romola de Pulszkie e de ter fugido com ela para Buenos Aires.
A arte da dança é utilizada por Nijinsky como um mecanismo de comunicação com o público, como uma maneira de demonstração dos vários “Eu” que habitam o seu corpo; ser dançarino e ser reconhecido como tal representavam Nijinsky, e fez com que ele fosse inserido no discurso social, já que houve a consolidação de uma identidade (construção de um caminho de subjetivação do sujeito) a qual estava embasada em um referencial fálico. O referencial fálico seria justamente esse reconhecimento social o qual se inicia na família, na relação mãe – outro – bebê, e que depois -caso o sujeito seja reconhecido- “fica a cargo” da sociedade.
Fálico deriva de falo e este significa tudo àquilo que está além do pai e da mãe, àquilo que está em circulação na cultura, àquilo que ocupa uma posição social, àquela direção para onde o desejo, nesse caso a dança, está direcionado. Esses processos se inscrevem no plano Simbólico (ler na ausência, poder representar algo na ausência desse algo), e o recalque é um sinal de que houve a entrada no Simbólico.
O espetáculo do fauno foi uma das apresentações, senão a mais, polêmica da carreira de Nijinsky, já que ao término dessa dança, o bailarino o qual representava o fauno, encontrava-se numa cena de masturbação, semelhante a um animal que não encontra satisfação em um acasalamento, tentando fazê-lo sozinho, de maneira com que conseguisse a descarga daquela excitação.
Não conseguindo representar aquilo que o psiquismo não estava mais suportando, Nijinsky se utiliza de seu corpo com um meio de conseguir a liberação daquilo que estava lhe angustiando, daquele sofrimento, daquilo que estava lhe transbordando, daquilo que não estava mais conseguindo lidar. Esta cena retrata a fase da vida em que Nijinsky, aos 29 anos, estava sendo acometido pela esquizofrenia, e o delírio se torna substitutivo no cumprimento da função da dança na vida desse bailarino, pois ambos foram os meios utilizados para dar significação as suas experiências.
A esquizofrenia faz-se presente por duas características básicas: a alucinação (percepção daquilo que não existe realmente) e delírios (alteração do juízo crítico), o qual, em Nijinsky, fica evidenciado – nesse caso, um delírio desorganizado- pelo trecho de seu diário “Tenho uma copeira seca, porque sente. Ela pensa muito, porque foi dessecada no outro lugar onde ela serviu por muito tempo.”
Nijinsky, o “louco” dançarino, após abandonar os palcos, ficou transitando por várias instituições psiquiátricas, vindo a ser paciente de Bleuler; em 1919 começa a escrita de seu diário o qual foi publicado parcialmente em 1936 e integralmente em 1995. Em abril de 1950, aos 60 anos de idade, Vaslav Nijinsky morre em uma clínica em Londres.
Ana Laura Baldini Reis
Referências Bibliográficas:
Lacan, Jacques. O seminário: As Psicoses. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988.
REVISTA LATINOAMERICANA DE PSICOPATOLOGIA FUNDAMENTAL. O tratamento e o diagnóstico em instituição para crianças psicóticas: o caso S.* São Paulo: Agosto de 1997.
(Fonte: Revista Veja, 13 de janeiro de 1993 – ANO 26 – N° 2 – Edição 1270 – MEDICINA – Pág; 40 a 43)
(Fonte: Revista Veja, 14 de janeiro de 1981 – Edição 645 – CINEMA/ Por Jairo Arco e Flexa – Pág: 57)
(Fonte: http://www.ufrgs.br/psicopatologia/wiki)