Ex-presidente da Tunísia Ben Ali
O presidente estava exilado desde 2011, quando foi deposto pela revolução que inspirou a Primavera Árabe.
Ex-ditador tunisiano Ben Ali, foi pivô da Primavera Árabe
Deposto durante revolta popular, estava exilado na Arábia Saudita.
Zine El-Abidine Ben Ali (Hammam-Sousse, 3 de setembro de 1936 – Arábia Saudita, 19 de setembro de 2019), autocrata destituído da Tunísia. Ben Ali e sua esposa, Leila Trabelsi, governaram a Tunísia com punho de ferro por 23 anos, conduzindo a economia do país a rédeas curtas.
Em 7 de novembro de 1987, graças a um “golpe de Estado médico” contra o pai da independência tunisina, Habib Bourguiba, autoproclamado presidente vitalício, Zine El Abidine Ben Ali chegou ao poder.
Ben Ali – sucessivamente general, chefe da segurança nacional, ministro do Interior e primeiro-ministro no momento do golpe – logo estabeleceu um regime repressivo.
Militar de carreira formado em parte na França (Saint-Cyr) e nos Estados Unidos, “ZABA” (suas iniciais), como era apelidado por seus opositores, apoiou-se no aparato policial para sufocar qualquer contestação, sobretudo islamita, bem como para manipular a imprensa e os sindicatos.
Pai de seis filhos, incluindo três de um primeiro casamento, era frequentemente acompanhado por sua segunda esposa, Leila, detestada pela população por ter, com seu clã familiar, feito importantes cortes na economia do país.
Ao mesmo tempo, Ben Ali contava com o apoio inabalável de grande parte da comunidade internacional, sendo percebido como um baluarte contra os islâmicos.
Desemprego, miséria, corrupção e marginalização de regiões inteiras culminaram, em 17 de dezembro de 2010, na imolação do vendedor ambulante Mohamed Bouazizi. O episódio iniciou a revolução e, após um mês de manifestações e de quase 300 mortes, Ben Ali e seu regime caíram.
Após mais de duas décadas de poder repressivo, Ben Ali foi derrubado no início de 2011 por um movimento popular, o ponto de partida de uma onda de revoltas na região conhecida como “Primavera Árabe”.
Ele fugiu em 14 de janeiro de 2011 para Jidá, na Arábia Saudita. Desde então, viveu com sua família exilado no reino.
A queda de Ben Ali levou a uma transição democrática em seu país natal que começou em 2011. Na época, o ex-chefe de segurança já mandava na Tunísia há 23 anos – depois de assumir o poder de Habib Bourguiba, presidente vitalício que havia sido declarado incapaz de governar por motivos de saúde.
No cargo, Ben Ali tentou reprimir qualquer forma de dissidência política. Ele também abriu a economia, em uma política que levou a um crescimento rápido, mas também alimentou desigualdades e acusações de corrupção, inclusive entre seus próprios parentes.
Durante essa época, sua fotografia era exibida em todas as lojas, escolas e escritórios do governo, desde os balneários da costa do Mediterrâneo até as vilas empobrecidas e cidades mineiras do interior montanhoso da Tunísia.
Nas poucas ocasiões em que seu governo foi posto em votação, ele enfrentava apenas oposição nominal e vencia a reeleição com mais de 99% dos votos.
Carreira
A ascensão de Ben Ali começou no exército, depois que Bourguiba conquistou a independência da Tunísia da França em 1956. Ele era chefe de segurança militar desde 1964 e de segurança nacional desde 1977.
Depois de três anos como embaixador na Polônia, ele foi chamado de volta ao seu antigo emprego de segurança em 1984 para reprimir tumultos sobre os preços do pão. Então um general, foi nomeado ministro do Interior em 1986 e primeiro-ministro em 1987.
Levou menos de três semanas para consegur uma nova promoção para um cargo mais alto: reuniu uma equipe de médicos para declarar Bourguiba senil. Ele assumiu então, de forma automática, o cargo de chefe de Estado.
Sua primeira década como presidente incluiu uma grande reestruturação econômica – apoiada pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial – e uma taxa de crescimento anual pouco acima de 4% ao ano.
Estado de polícia
Posicionada entre a Líbia de Muammar Kadhafi e uma Argélia lançada em guerra civil entre o governo apoiado pelo exército e militantes islâmicos, a Tunísia de Ben Ali seguiu o caminho pós-independência do secularismo e abertura para o exterior.
Mas, do lado de dentro, críticos diziam que a Tunísia era um Estado policial, onde poucos ousavam desafiar um governo todo-poderoso. Em um país onde muitos já haviam experimentado a vida sob a democracia em outros lugares, o Estado opressivo de Ben Ali foi motivo de desgaste.
Enquanto a elite acumulava riqueza em suas vilas extravagantes à beira-mar, os primeiros anos de promessas populistas de Ben Ali pouco rendiam aos pobres. O estilo de vida luxuoso de sua esposa, Leila Trabelsi, e de seus parentes ricos passou a simbolizar a corrupção de uma época.
Levante
Nas províncias, nas cidades mineradoras do sul e nas aldeias rurais sem água corrente, a raiva crescia, levando a um pequeno movimento de protesto em 2008 – às vezes chamado “a pequena revolução”.
Para Ben Ali, o fim repentino chegou quando um vendedor desesperado de vegetais ateou fogo em si mesmo na cidade de Sidi Bouzi, em dezembro de 2010, depois que a polícia confiscou seu carrinho de mão. Milhares de pessoas furiosas compareceram ao funeral dele, provocando semanas de protestos ainda maiores em que vários morreram.
Em meados de janeiro de 2011, Ben Ali embarcou em um avião para a Arábia Saudita. Mais tarde, no mesmo ano, um tribunal tunisiano o sentenciou, à revelia, a 35 anos de prisão.
Transição para a democracia
Hoje, oito anos após o levante, as condições de vida ainda são difíceis em algumas áreas, com o desemprego maior do que em 2010 e os serviços públicos parecendo ter se deteriorado.
Os tunisianos frequentemente reclamam que os padrões de vida caíram desde a revolução e falam da vida sob Ben Ali como mais confortável do ponto de vista material. Mas poucos falam com nostalgia de seu estilo de governo, ou dizem que querem o fim da democracia.
Em 2018, após um julgamento à revelia por “homicídio doloso”, “abuso de poder”, ou ainda “desvio de fundos públicos”, ele foi condenado a diferentes sentenças, incluindo várias penas de prisão perpétua.
No domingo (15), o país votou em uma eleição com candidatos de todo o espectro político, e dois candidatos de fora da política chegaram ao segundo turno – em uma votação que seria impensável durante o mando do ex-presidente.
“Ben Ali acabou de morrer na Arábia Saudita”, disse o advogado Mounir Ben Salha à Reuters por telefone.
(Fonte: Zero Hora – ANO 56 – N° 19.509 – 20 de SETEMBRO de 2019 – TRIBUTO / MEMÓRIA – Pág: 27)